As chicotadas psicológicas e as boas ou más escolhas
TÁTICA DO PROFESSOR - A crónica semanal de Jesualdo Ferreira em O JOGO
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1 - Os números são arrasadores, preocupam e, acima de tudo, devem merecer uma séria reflexão de toda a família do futebol. Nove equipas já mudaram de treinador e a primeira volta do campeonato ainda não chegou ao fim (faltam três jornadas).
Já não é só depois de uma derrota que um treinador é despedido, agora é também depois de uma vitória
É cíclico em Portugal, mais do que noutros países. A chamada chicotada psicológica, que castiga sempre os treinadores, começa a ser uma triste imagem de marca do futebol português. E sim, insisto, julgo que está na hora de as pessoas se sentarem para falar sobre o assunto.
Costumo dizer que o sucesso de um projecto depende, em primeiro lugar, das escolhas que se fazem, dos treinadores, dos jogadores, mas antes é preciso ter a noção exacta se as condições do projecto são as ideais para se atingir os objectivos propostos (nem sempre isto acontece, o que, desde logo, limita a ação do treinador).
Os resultados ditam, normalmente, o futuro de um treinador num clube. Está directamente ligado aos resultados, já todos sabemos disso; não é o presidente ou os jogadores que saem, é o treinador, sendo que o presidente ou os dirigentes, quando optam pela decisão de mandar embora o treinador, estão a deitar fora a sua própria escolha. Eles, sim, deviam ser os primeiros responsabilizados. Isto pode parecer utópico, mas é linear.
Os primeiros a falhar são só dirigentes que escolhem os treinadores para liderarem os seus projectos e, muitas vezes, não lhes criam as condições para suportarem a ambição que passaram ao grupo escolhido. Volto a este tema porque, nesta semana, um dos clubes do top quatro, o Braga, mudou de treinador. Despediu Sá Pinto, que fez uma enorme carreira na Liga Europa, mas que no campeonato esteve aquém daquilo que hoje é pedido ao Braga.
Também o Sporting, nesta época, já mudou de treinador. Ou seja, a chicotada psicológica não é um mal que afecta apenas as equipas com ambições mais modestas, embora nestas seja mais comum acontecer. Um pormenor curioso: a coisa banalizou-se de tal forma que agora o timming das saídas mudou: já não é só depois de uma derrota que um treinador é despedido, agora é também depois de uma vitória, como aconteceu com Vítor Campelos, no Moreirense, e mais recentemente com Sá Pinto, no Braga. Sim, tudo isto merece reflexão de todos nós.
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2 - Há outro problema associado a esta questão. Algumas entradas de treinadores já provocaram celeuma, por não estarem habilitados segundo o que é exigido pelos regulamentos. Aconteceu com Silas, no Sporting, e agora com Rúben Amorim, no Braga. Há regulamentos e são para se cumprir - há um grau de habilitações exigido para um treinador poder ser o principal de uma equipa técnica das provas profissionais.
E contra isso, não há nada a fazer, os regulamentos têm de ser cumpridos. Claro que com isto não ponho, nem quero pôr, em causa o Silas e o Rúben Amorim, ou as capacidades que têm para dirigir uma equipa de futebol. Com certeza que as têm, mas falta-lhes as habilitações. e não foram eles, com certeza, que pediram para assumir os projectos. Foram escolhidos por quem, seguramente, conhecia a situação profissional deles.