Arbitragem - factor de sucesso e de evolução do desporto
Pedro Sequeira, vice-presidente da Federação de Andebol de Portugal, membro da comissão de métodos da Federação Europeia de Andebol, presidente da Confederação de Treinadores de Portugal e professor coordenador de Ciências do Desporto em Rio Maior, opina em O JOGO sobre a atualidade desportiva
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Na semana passada recebemos a excelente notícia que os árbitros de andebol Duarte Santos e Ricardo Fonseca foram nomeados para arbitrarem um jogo da Final Four da Liga dos Campeões de andebol. Estamos a falar da prova de clubes mais importante do mundo (tendo em conta que a Europa é o Continente mais evoluído no andebol)! No passado mês de janeiro já tínhamos tido o António Goulão como delegado na final do Campeonato do Mundo de andebol. No 3º Europeu de andebol em cadeira de rodas, realizado nos dias 30 de novembro, 1 e 2 de dezembro (nesta época desportiva), onde Portugal se sagrou campeão europeu, tivemos uma dupla de árbitros (Nélson Santos e Ricardo Caçador) que não pôde apitar a final pois a seleção portuguesa estava lá (apitaram o jogo dos 3ºs e 4ºs lugares).
Estes são alguns exemplos com maior destaque no andebol. Mas durante a época desportiva vários outros árbitros e delegados estiveram em jogos de competições europeias (de clubes e de seleções). Noutras modalidades sucedeu o mesmo. Exemplo recente é o Artur Soares Dias e o Tiago Martins estarem nomeados para o Campeonato do Mundo de futebol de sub-20, ou a nomeação do árbitro Alexandre Fernandes para o Campeonato do Mundo de natação que se realiza este ano, em julho, na Coreia do Sul. Se percorrermos outras modalidades, vamos encontrar muitos outros exemplos da qualidade da arbitragem nos mais diversos contextos nacionais e internacionais.
Durante alguns anos estive ligado ao basebol em Portugal, primeiro como treinador, mais tarde como Diretor Técnico Nacional da Federação Portuguesa de Basebol e Softbol. Na altura, por ser uma modalidade com maior expressão em outros países europeus e, obviamente, nos Estados Unidos da América, era através desses países que tínhamos acesso a formação nas diversas áreas da modalidade. Havia algo que era uníssono nos diversos países, com destaque para os EUA: a modalidade só se desenvolvia - e continua a desenvolver-se - se os seus árbitros estiverem num nível superior que os restantes agentes desportivos. A preocupação constante com ações de formação, atualizações e cursos de árbitros é algo que distingue esta modalidade e muita da filosofia desportiva nas restantes modalidades nos EUA. Os árbitros têm de ser os melhores e são criadas todas as condições para isso.
Será que estamos preparados para "mudar o chip" relativamente aos árbitros e juízes das diferentes modalidades? Eu acredito que sim.
Se temos excelentes árbitros em Portugal e que se conseguem destacar a nível internacional certamente se deve à sua dedicação à causa. Para se ser árbitro não chega conhecer as regras. É preciso conhecer bem o jogo em todas as suas vertentes bem como os seus intervenientes. O árbitro necessita de analisar bem aquilo que vai encontrar para se poder preparar. Uma equipa que. por exemplo. aposte forte nas reposições rápidas no jogo e no contra-ataque. vai obrigar a um determinado posicionamento em campo. Se uma equipa apostar num 5:1 ou num 6:0 - uma defesa mais profunda ou uma defesa mais densa - vai obrigar ao árbitro a ter diferentes abordagens ao jogo.
Tudo isto são exemplos de que o árbitro necessita de treinar, estudar e trabalhar ao logo de todos os dias e semanas, com tanta ou mais dedicação e empenho do que os atletas e treinadores. Os muitos que chegam ao topo sabem isto e fazem-no. Mas é importante que sejam criados meios para que todos tenham condições para treinar de forma aprofundada e, assim, serem competentes em todos os níveis da modalidade, desde a formação ao rendimento.
Acompanhamento diário, espaço para estudar e treinar, ações contínuas de aperfeiçoamento e atualização são algumas das muitas medidas a implementar nas diversas modalidades. Fará com que todos - e não apenas alguns - consigam estar no nível mais lato da modalidade e com isto ajudarem no crescimento e desenvolvimento da sua modalidade.
Parece difícil? Não. Basta olhar para o sucesso que o andebol tem conquistado este ano ao nível de clubes e seleções e olhar para os níveis que a arbitragem alcançou, exatamente igual. Coincidência ou obra do acaso? Também não. Ambos a puxarem para o mesmo objectivo: o topo. Não é exclusivo no andebol. Outras modalidades, no passado e presente, apresentam a mesma fórmula: bons árbitros, sucesso garantidos de treinadores e atletas e da respetiva modalidade. Será que estamos preparados para "mudar o chip" relativamente aos árbitros e juízes das diferentes modalidades? Eu acredito que sim.