SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões
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Na próxima época desportiva a Liga NOS vai ser disputada por 15 clubes com a forma de SAD e apenas 3 SDUQ. Na II Liga, tal como está determinado pela Liga e Federação, estarão presentes 12 SAD (incluindo duas equipas B) e 6 SDUQ.
Caso o V. Setúbal seja "repescado", a distribuição desta liga passaria a 13 SAD, 5 SDUQ. Para que fique bem claro, a experiência dos últimos sete anos diz-nos que, para clubes com condições semelhantes, as SAD mostram ser capazes dos extremos: conseguem os melhores e os piores resultados gerais, tanto em termos desportivos como financeiros.
As SDUQ , apesar do menor poder financeiro teórico, conseguem maior equilíbrio e melhor relação custo eficácia.
Na época 19/20 existiam na I Liga 15 SAD. Destas, cinco andaram até ao fim com o credo na boca (Tondela, Belenenses, V. Setúbal, Portimonense e Aves), duas desceram (Aves e Portimonense) e duas podem desaparecer (Aves, caso encerrado, e V. Setúbal). Das três SDUQ apenas o Paços de Ferreira passou por aflições, mas aguentou-se bem no regresso à Liga NOS. O Rio Ave teve uma campanha de grande nível, muito por mérito de Carlos Carvalhal, e terminou num brilhante 5.º lugar, superando SAD bem ancoradas financeiramente, como Famalicão, V. Guimarães, Moreirense, Marítimo ou Santa Clara. O Gil Vicente, com Vítor Oliveira ao leme, passou com classe o "Cabo das Tormentas" da transição brusca de dois escalões e construção de equipa de raiz. E assim se demonstra que as SDUQ, sendo bem geridas, apoiadas pela massa adepta e pelas forças vivas locais, e dispondo de boas relações com empresários, conseguem gastar menos que as SAD e bater o pé às da sua igualha e outras mais fortes.
Nas SAD, temos um 1.º pelotão constituído por Benfica, FC Porto, Sporting e também o Braga, que conseguiu alcançar um patamar bem elevado e descolar de outros que há cinco ou dez anos eram mais fortes que os bracarenses. O Vitória SC, de Guimarães, tem potencial para ombrear com o Braga, mas lutas intestinas e indefinição de accionistas de referência (e de política desportiva) estão a tolher os objectivos e a dificultar a aproximação ao Braga.
Noutro nível e com especificidades regionais temos Marítimo e Santa Clara (o Nacional anda ultimamente no sobe e desce). Estas SAD foram durante décadas altamente subsidiadas pelos respectivos Governos Regionais (mais de dois milhões de euros por ano nos tempos áureos) e pelo detentor de direitos televisivos, que dava um apoio extra de 1,5 milhões de euros, em média, aos clubes das ilhas em relação aos seus "semelhantes" do continente. Com esses 3, 5 a 4 milhões que recebiam a mais duplicavam os orçamentos dos remediados do continente. Actualmente, o rio das autonomias tem menos água e os contratos com NOS e Altice são similares, pelo que as injustas vantagens financeiras diminuíram. São exemplos bons de clubes cujos desempenhos não dependem de ser SAD ou SDUQ, pois com muito dinheiro disponível é mais fácil contratar bem e apresentar melhores resultados.
As restantes SAD estão divididas entre as detidas por estrangeiros (Famalicão, único que sobressaiu, Tondela, os já falados Portimonense e Aves) israelitas, espanhóis, brasileiros ou chineses; as que andam a ver se arranjam capital externo que as queira comprar (os históricos Boavista e V. Setúbal, que tem a espada de Dâmocles na cabeça); e as nacionais Moreirense, exemplo de gestão inteligente por parte do seu proprietário Vítor Magalhães (que só não se deu bem quando esteve à frente do Vitória de Guimarães) e B SAD que já foi Belenenses. São bons exemplos a acompanhar, pelo que pode suceder quando mudar o dono/poder/vontade (em Moreira de Cónegos a descida foi da I Liga para o CNS) ou a euforia (o Famalicão de Jorge Mendes "and friends", o Tondela, o Portimonense), ou a verificação do fraco peso da "tradição". O que conta é a má gestão, que com negócios obscuros ou eventual rotação de dinheiros rapidamente entram em queda livre. E é bem mais fácil desaparecer ou extinguir uma SAD que uma SDUQ, pois os sócios não contam para nada.