Se a crítica ao árbitro fosse liberalizada, como sugere Conceição (e muitos outros), o futebol cairia na lama, mas também não lhe faz bem que o adepto nunca veja repercussões dos erros.
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"Não se pode dizer que um árbitro esteve bem ou menos bem?", interroga-se Sérgio Conceição, depois de a APAF se ter queixado dele ao Conselho de Disciplina.
A pergunta retórica não está bem feita, porque não foram esses os termos da crítica que o treinador do FC Porto fez ao VAR Tiago Martins depois de uma expulsão, mas podemos adiantar que a resposta tende a ser não.
A crítica que ultrapasse o "bem ou menos bem" confronta o futebol com um problema de credibilidade. No exemplo em si, Conceição está certo. A queda do iraniano na área do Paços de Ferreira foi revista com uma negligência difícil de aceitar. O VAR tinha de detetar o toque do joelho direito do defesa no pé direito do avançado, e não, não pode analisar com preconceito, porque não lhe cabe o papel de juiz da fama de simulador, justa ou injusta, que Taremi possa ter. Mas também não cabe ao Conselho de Disciplina decidir se um treinador, jogador ou dirigente está cheio de razão quando fala de árbitros, e muito menos se o fez bem intencionado, a quente, ou se foi calculista e pretendeu condicionar a arbitragem. Se o CD não exercesse uma coerção cega, em praticamente todos os jogos a arbitragem (e, por arrasto, a credibilidade do futebol) seria pulverizada pelos derrotados e as conferências de antevisão tornar-se-iam num pingue-pongue de pressão sobre os árbitros. Alguns com razão, outros julgando (mal) que a têm e outros ainda só para aliviar o fígado.
Onde é que a APAF falha? Ao não perceber quanto afeta também a credibilidade do futebol que não exista qualquer tipo de repercussão visível ao público para uma asneira de um árbitro e, principalmente, que a classe não tenha encontrado nenhum fórum para a autocrítica, já que o futebol (geralmente bem) e a APAF (nem sempre) não autorizam mais ninguém a fazê-lo.