PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Há momentos, durante os jogos, em que o Benfica parece o verdadeiro Benfica. O seu melhor futebol, independentemente do treinador, todos o sabemos reconhecer. Aquele que assume a bola e que vai atrás do jogo buscando alternativas ofensivas. São, porém, instantes apenas, como flashes.
Se fixar um momento concreto fica mais fácil essa perceção. Quando aquela bola caiu vinda do ar, Darwin apanhou-a sem a deixar cair, com a força e colocação de quem só joga com total convicção das suas forças o pode fazer. Alisson, o guarda-redes do Liverpool, fez uma defesa quase impossível. Impediu assim o 4-3 para o Benfica.
Só esta última frase causa alucinações. É verdade, este Benfica de flashes tinha, de repente, quando o jogo "já estava resolvido no 3-1", afundado pelos erros defensivos cometidos, surgido na sua verdadeira dimensão. Foram não mais de cerca de 15 minutos, diria. É irresistível, então, perguntar por que não sempre? Porque este é um grupo de jogadores que joga, ou está em campo, desde há muito, como que apanhando pedaços de identidade de jogo com que conseguiria compor-se numa verdadeira equipa.
2 - Esteja em que estado estiver, a fasquia de expectativas para qualquer equipa do Benfica está sempre alta. Na maior parte do tempo em Liverpool mostrou a vontade hipotecada por erros defensivos primários. Em algumas jogadas de ataque, sobretudo na exploração da profundidade em bolas longas com a defesa inglesa muito subida e desconcentrada a fazer o fora-de-jogo, mostrou os tais flashes de linha ascendente. Um potencial que, por razões várias, nunca foi devidamente explorado este ano.
Com esta derrota, a sua época competitiva terminou. Finda também um ciclo para este núcleo de jogadores. É difícil pensar numa reconstrução que vise a criação duma equipa com consistência de qualidade competitiva coletiva intensa e forte, a partir desta que é uma "sucessão de flashes".
3 - Os esforços diretivos estarão, nesta fase, concentrados na contratação do treinador, mas logo terão de centrar-se no reforço da linha defensiva, da avaliação do que valem as características dos médios versus ideias do novo treinador, e que avançados podem ficar em função do "mercado-Darwin".
A vida duma equipa fica mais fácil quando aparecem jogadores que a saibam liderar em campo quando as coisas ficam mais difíceis. Este Benfica tem defesas com divisas e estatuto mas já sem a força para o fazerem. As crises nas grandes equipas só se resolvem com triunfos imediatos. A expectativa cresce quando se ouve falar em revoluções e por isso os dirigentes encarnados não passam tal para fora. Mesmo que o pensem, nem que seja por instantes, porque noutros talvez já nem seja caso para tanto. É quando reparam que, até em Liverpool, anda por aí uma equipa que parece o Benfica!
Solução: tentar o impossível
Os sentimentos à flor da pele. O campeonato entra numa fase decisiva também na mais dramática das lutas: a fuga à descida. Estarão seis equipas nessa guerra mas haverá outras que não podem descansar. Pouco importará aqui avaliar as que vejo a jogar melhor para dar como mais prováveis à salvação e, "a contrario sensu", à condenação.
Estes jogos não têm essa lógica e para tal basta ver como neles podem entrar golos antes do meio-campo. Quando lhe chegou aquela bola vinda dum ressalto dum canto a favor da sua equipa, André Silva, com terreno livre à sua frente, tinha de escolher entre arrancar e correr 68 metros ou... rematar desde 68 metros! Esta solução, rematar, era claramente mais cómoda (gerindo esforço) mas claramente a mais difícil (e totalmente improvável ter sucesso). Fez golo. Se essa sua decisão foi... decisiva para o futuro do Arouca veremos no resto da época.
O Moreirense já caiu nos cuidados intensivos mas a equipa de Sá Pinto voltou à vida. A vitória sobre o Gil foi um exotismo de Jefferson. Talvez o duelo com o Tondela que Ayestarán criou e Nuno Santos adotou já não o seja. É quase uma final pela salvação. Na curva seguinte, está o Famalicão. De todos, é o que vejo com melhores jogadores. Por isso, teria de estar noutro nível, mas não faz golos do meio-campo.