HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Uribe chegou e assentou no onze, assimilando de imediato a cartilha do técnico. Agora Uribe saiu e deixou um buraco que, no fundo, até pode nem o ser. Quando Vitinha saiu não ficou bem a mesma coisa, mas o FC Porto moldou-se ao ponto de maquilhar uma posição "oito" que, no fundo, não existia na sua dinâmica de jogo. Dá jeito ter Sérgio Conceição, que constrói catedrais com plasticina.
No Benfica, saiu Enzo e o meio-campo transformou-se em geringonça. Valeu João Neves e a sua capacidade para refrescar o imutável desenho de Schmidt. Agora os tempos são outros e a conta bancária resolve: quero Kokcu, veio Kokcu. Ponto. Resta saber como se substitui Grimaldo.
No Sporting, a análise multidimensional do buraco é dupla: se a saída de Ugarte provoca necessidade de se restabelecerem equilíbrios, na dianteira há diamantes como Chermiti e Rodrigo Ribeiro. A situação não será de alarme, mas sim de esperança.
Francisco Conceição, o inconformado
Pelo que se viu da segunda parte do jogo frente à Inglaterra - sobretudo depois da entrada de Paulo Bernardo e da sua capacidade para entrar em zonas de finalização - a seleção de sub-21 podia ter ido bem mais longe no europeu. Francisco Conceição esteve em grande: sacou dois amarelos aos ingleses e, com Pedro Neto desinspirado (ou limitado) no corredor esquerdo, assumiu as rédeas do desequilíbrio que Portugal necessitava para ficar perto do empate. Numa primeira parte portuguesa que foi amorfa, começou na zona central e trabalhou para que a construção inglesa não fosse mais efetiva. Saiu esgotado mas com a plena noção de uma exibição consistente e conseguida.
Rodrigo Ribeiro, a razão de Amorim
Num europeu de sub-19 onde vários jogadores se destacam - como o central goleador Gabriel Brás - há um elemento que faz jus à enorme confiança que Rúben Amorim nele deposita: Rodrigo Ribeiro. Determinante frente à Itália ao assinar o golo do empate, destacou-se pela forma ativa e associativa como se integrou na dinâmica ofensiva da equipa, sendo sempre a principal referência para os colegas. Aliás, foi também decisiva a sua presença na área no golo de Gustavo Sá, que alavancou a equipa nacional para uma vitória tranquila e para as meias-finais da competição. Num Sporting que selou Gyokeres, deve também haver espaço para um avançado português dotado de tanta qualidade.
Di María, o regresso
Nota positiva: o bom filho à casa torna e, para além de ser um jogador de tremenda qualidade, Di Maria transporta em si a mística do clube, algo que é sempre uma mais-valia. Outra nota positiva: os encarnados carecem de jogadores dotados de desequilíbrio individual no centro do terreno, que possam desembrulhar e resolver por si. Mas há o reverso da medalha: em primeiro lugar diz o povo que "nunca voltes ao lugar onde foste feliz"; depois, o jogador mais mediático do Benfica na temporada passada foi Draxler, que passou nos pingos da chuva de uma equipa consolidada. Por outras palavras, como irá reagir Di Maria quando tiver de ser uma segunda linha?
Uma excelente notícia
A presença de mais de 20 mil adeptos no último ensaio antes do mundial de futebol feminino foi uma excelente notícia para o desporto português. Para além do merecido enfoque às senhoras, trata-se de uma grande demonstração do futebol não só como modalidade mas também como eixo de agregação social. A repetir no futuro.