A opinião do jornalista Carlos Flórido
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Já conheci centenas de atletas, fiquei amigo de vários deles, mas nunca nenhum como Fernando Pimenta. O rapaz envergonhado de Ponte de Lima que conseguiu a prata em Londres, há 12 anos, fez-se um homem que sabe o que quer e tem discurso elaborado, mas manteve a humildade dos primeiros anos, é amigo do seu amigo e de uma disponibilidade rara para quem já ganhou tanto. Pimenta, com os seus 145 pódios internacionais, é dos melhores canoístas mundiais da última década e o atleta português mais laureado da história, mas faltou-lhe sempre a medalha que faria a maior diferença: o ouro olímpico. Ontem despediu-se das águas francesas sabendo que não o conseguirá - se for a Los Angeles’28 deverá ser para desfrutar -, e também que o seu momento era no Rio’2016, onde alinhou sendo o mais forte e foi travado pelo azar. É uma dor de alma um atleta assim não alcançar tudo o que merecia, mas ao longo destes anos obteve algo igualmente importante: está no coração de todos nós e nunca o esqueceremos.
Como o destino por vezes gosta de brincar, o ouro que salvou a Missão de Paris foi parar ao pescoço de dois rapazes semelhantes a Pimenta. Iúri Leitão e Rui Oliveira, também humildes e atenciosos, atingiram um inesperado topo de carreira com uma das exibições mais brilhantes que o ciclismo de pista já viu. O título olímpico não os mudará, mas vai dar-lhes um reconhecimento público que nem imaginam, reforçará a posição de ambos nas equipas internacionais que representam e terá sobretudo outro significado: o ciclismo provou ao país que um investimento bem feito dá frutos, até superiores aos de qualquer outro país. Porque ninguém, como nós, conseguiu o ouro e a prata olímpica 15 anos depois de ter partido do zero, com a construção do primeiro (e único) velódromo nacional.