Opinião de Gilberto Madaíl, presidente da FPF de 1996 a 2021
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Ter um representante português no Comité Executivo da UEFA não é, desengane-se quem pense o contrário, matéria de somenos importância. É ali, no núcleo do Futebol Europeu, que tudo se discute. Que tudo se decide. Sei do que falo, por experiência própria. Um país que quer ser verdadeiramente relevante (e ter relevância) no panorama do futebol internacional tem de ter presença nas suas mais altas instâncias. Ponto final. Não devia, sobre este tema, existir qualquer tipo de dúvidas.
Numa altura em que o futebol mundial, no geral, e o português em particular, se preparam para desafios decisivos – a discussão dos calendários internacionais, a organização do Campeonato do Mundo 2030, a candidatura à organização do Campeonato da Europa Feminino em 2029 (os últimos dois promovidos pela anterior Direção da Federação Portuguesa de Futebol) –, aquilo a que assistimos nos últimos dias é uma traição que todos os agentes do Futebol Português dispensavam.
Conheço bem os corredores da UEFA. Sei bem como se ganham, e como se perdem, eleições para o Comité Executivo da UEFA. A política faz parte do jogo. E sei bem que qualquer sinal de fragilidade é aproveitada pelos adversários de uma forma implacável. Sei eu e sabe qualquer pessoa que já tenha vivido de perto estes momentos. Como viveu o ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e hoje Presidente do Comité Olímpico de Portugal (convém não esquecê-lo), Dr. Fernando Gomes.
Não tenho, por isso, nem dúvidas nem medo de dizer que aquilo que o Dr. Fernando Gomes fez ao atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol foi, além de muito feio, indigno de quem devia, à luz do cargo que desempenhou anteriormente e daquele que desempenha agora, zelar pelos superiores interesses do Futebol Português.
A carta que, de forma cobarde, leviana e despudorada, Fernando Gomes enviou às lideranças da UEFA e aos presidentes das 55 federações com poder de voto nas eleições para o Comité Executivo da UEFA tirou a Pedro Proença qualquer possibilidade de ser bem-sucedido numa demanda absolutamente vital para o Futebol Português.
E nada, absolutamente nada, deve estar acima dos interesses do Futebol Português.
A atitude de Fernando Gomes, em nome de questões que ninguém pode verdadeiramente perceber ou defender, foi, mais do que um ato de traição a Pedro Proença ou à Federação Portuguesa de Futebol, um ato de traição ao Futebol Português.
Uma atitude que ganha especial relevância pelo facto de Fernando Gomes ser, hoje, presidente do Comité Olímpico de Portugal, um organismo que tem o dever de proteger os interesses de todas as Federações que o integram. Como é o caso da Federação Portuguesa de Futebol.
Ao escrever uma carta a arrasar o atual presidente da FPF, ir a Belgrado, não sei sob que pretexto mas certamente para corroborar o que já lavrara em palavra escrita, é tudo menos defender os interesses de uma das federações cujos interesses que deveria defender.
Na primeira ação como presidente do Comité Olímpico de Portugal, Fernando Gomes falhou. E falhou redondamente. A questão é se deveria, sequer, ter direito a um segundo ato. Porque num país a sério, Fernando Gomes deixaria imediatamente de ter condições para continuar a desempenhar o cargo para que foi recentemente eleito. E se não for ele a ter a dignidade de dar esse passo, alguém com verdadeira responsabilidade deveria dá-lo por ele.