PLANETA DO EUROPEU - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - Os sistemas tácticos não têm vida própria. Dependem dos princípios que cada equipa lhes impõe. O mesmo sistema pode ter dinâmicas diferentes.
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Esta bipolaridade dos sistemas pode aplicar-se à mesma equipa. A intenção com que a Inglaterra montou o sistema de três centrais (3x4x3 no papel) contra a Itália, parecia diferente da como o fizera contra a Alemanha e até a Dinamarca. Se antes pensara na organização defensiva para poder encaixar com uma linha a "5" frente a equipas que num sistema a "3" atacavam muito pelos laterais, frente à Itália (em 4x3x3) a ideia nasceria para, na dinâmica ofensiva, soltar os laterais (Trippier-Shaw) e criar superioridade numérica pelos flancos.
O jogo, porém, levou rapidamente o sistema para outro lado táctico, porque com 1-0 logo ao minuto dois (numa subida do lateral Shaw) tal implicou passar a estacionar o sistema numa defesa a "5" (em bloco-baixo). Retirava profundidade ao ataque italiano mas, com o tempo, recuou demasiado a equipa.
2 - Também os sistemas mais tradicionais podem ter esta capacidade transformadora. Inclusive, claro, o 4x3x3 de múltiplos triângulos. Mancini mostrou esse transformismo de princípios pela fórmula mais difícil de decifrar. Qual? Querendo atacar melhor, tirando o ponta-de-lança. Assim foi.
Nesta aparente suprema contradição (tirando, a perder, Immobile) redesenhou o seu onze e em vez da mera presença na frente, buscou construir (começando no meio e abrindo em largura nos últimos 30 metros) desde trás com a dupla Jorginho-Verratti mais Cristante, um novo flanqueador em posse desde a direita, Berardi, e dois vagabundos com rasgo e golo na frente, Insigne (solto no meio) e Chiesa (saindo duma toca na meia-esquerda).
O 4x3x3 italiano ganhava outra mobilidade (com mais posse a elaborar e atacar) e fazia dançar a plantação táctica inglesa. Pegou na bola, no jogo e empatou. Com autoridade.
3 - A batalha táctica entre Mancini e Southgate atingiu o desafio do controlo dos limites físicos nos últimos minutos. Com Chiesa e Insigne presos por arames, a entrada de Bernardeschi poderia dar outra criatividade em posse (a melhor visão de "trequartista" do Calcio atual) ao ataque italiano, que passava também a voltar a ter um n.º 9 clássico, Belotti. Menos velocidade, mais temporização. Era tempo de usar cada vez melhor o poder da cabeça à medida que a força das pernas diminuía e a Inglaterra preferia resistir com a sua consistência defensiva do que arriscar ganhar lançando os criativos (Foden, Sancho e Rashford) que tinha no banco.
Os penáltis deram o titulo à melhor equipa. Na ideia e na reação ao jogo. A Itália resgatou a força da sua história.
TÁCTICA
- A versatilidade do 4x3x3 italiano em mobilidade ou com n.º 9 fixo;
- Os enormes generais Bonucci-Chiellini na defesa da Itália.
TÉCNICA
- A falta de aposta de Southgate nos criativos
- As várias faces do triângulo de médios da Itália de Jorginho