PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - A opinião de José João Torrinha.
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1 - Há um momento na vida do meu clube que, para infelicidade de todos, se encontra gravado para sempre na nossa memória coletiva. É um cruzamento da esquerda de Luciano Amaral e um cabeceamento para golo de Roberto. Com aquele tento, o Vitória apurar-se-ia para a Liga dos Campeões, o que lhe foi roubado por um fora de jogo escandalosamente mal assinalado.
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Este momento veio-me à memória a propósito da já falecida Superliga. É que, se no sistema atual, o acesso de um clube como o Vitória à Champions é possível mas muito difícil, na tal Superliga estaria totalmente fora de questão.
Este fechamento definitivo da competição à esmagadora maioria dos emblemas, acrescentado de um lugar cativo aos ungidos que a tinham fundado, levou a uma indignação generalizada que acabou por matar a iniciativa. A coisa foi a tal ponto que até muitos dos adeptos dos tais clubes fundadores protestaram.
Ainda bem que assim foi. Mas esse facto não nos deve desviar as atenções do que já existe e da sua iniquidade. É que quem tivesse ouvido os protestos inflamados de tantos e tantos poderia ser tentado a pensar que evitamos o inferno, mas que vínhamos do céu. Não vínhamos.
A atual Liga dos Campeões já enferma de muitos males de que nos queixamos a propósito da Superliga. Ela já promove e premeia a desigualdade. Já privilegia os do costume em detrimento dos demais. Nela já vigora o mais puro, duro e selvagem capitalismo.
O que a Superliga fez foi nada mais do que levar a coisa ao extremo. Assumiram e disseram com todas as letras ao que vinham. Mas a semente do mal, já lá estava.
O que era desejável é que este episódio permitisse que fosse discutido o modelo atual no sentido de ele ser mais justo, mais proporcionado e mais equilibrado. Que permitisse uma maior alternância entre protagonistas. Que fosse solidário e equitativo.
Em vez disso, temo que o caminho vá ser o oposto. Numa tentativa de colocar um pedregulho em cima do assunto, as alterações que aí vêm mais não farão do que aproximar o modelo atual daquele proposto por Florentino Perez y sus muchachos.
O que detesto mesmo é aquele tipo de jogos em que pensamos pequenino, entramos cheios de respeitinho e depois perdemos na mesma. Esses são mesmo os que me tiram do sério
2 - Ao longo de 40 anos a ir à bola já vi dezenas e dezenas de jogos em que o Vitória defrontava adversários que teoricamente lhe eram superiores. Ao fim de tanto tempo, já vi de tudo. Jogos épicos em que marcámos quatro ao Benfica, virámos o resultado duas vezes ao Sporting no mesmo jogo, empatámos a dois nas Antas com sabor a pouco ou ganhamos uma Taça no Jamor. Também vi jogos em que nos estampámos à grande, tivemos mais olhos do que barriga ou demasiada incompetência e levámos um cesto. Outras vezes, jogos renhidos em que lutámos taco a taco e no final perdemos, empatámos ou ganhámos. Mas o que detesto mesmo é aquele tipo de jogos em que pensamos pequenino, entramos cheios de respeitinho e depois perdemos na mesma. Esses são mesmo os que me tiram do sério.