Não existe nenhuma vantagem para o jogo nas cinco substituições. Nem para manter a intensidade alta. Significaria, em rigor, só manter os jogadores com pulmão para continuar a correr o mais possível.
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1 - Não consigo ver mutilar o futebol da sua essência (bases de pensamento no jogo) em nome do barulho e da impaciência. É desta forma, crua e curta, que vejo a regra das cinco substituições. É contranatura. A negação da exigência do saber como mexer inteligentemente no jogo. Um mero apelo ao caos e à sorte.
A boa notícia, que espero sirva de referência, chegou de Inglaterra: a Premier League vai voltar às três substituições na próxima época
Não me admira que pessoas fora do futebol gostem de ver. Porque veem o futebol como um filme mudo em projeção acelerada. Quanto mais velocidade, melhor. Uma proporção direta entre o espetáculo e o absurdo em movimento. Como querer narrar um jogo na televisão como se fosse na rádio e ninguém estivesse a ver nada.
Não existe nenhuma vantagem para o jogo nas cinco substituições. Nem para manter a intensidade alta. Significaria, em rigor, só manter os jogadores com pulmão para continuar a correr o mais possível. Admiti esta decisão na pós-paragem (para sujeitar jogadores a menos desgaste), mas não a percebo para épocas normais. A boa notícia, que espero sirva de referência, chegou esta semana de Inglaterra: a Premier League vai voltar às três substituições na próxima época.
2 - O treinador ver isto como ter mais alternativas para mexer na equipa durante o jogo é uma ilusão. Tantas alterações já não traduzem mexer na equipa, mas sim meter uma nova equipa. E esqueçam a eficácia de "duas equipas diferentes" jogarem o mesmo jogo. Este deve ter um plano e vários pensados de reação a ele.
Com a possibilidade de fazer cinco substituições (ou até seis, nos jogos com prolongamento), o treinador, no limite, deixa de pensar como... treinador para, sobretudo na parte final (últimos 15/20 minutos), pensar como um adepto, de forma irracional, meramente impulsiva, reativa, atirando com jogadores para dentro do campo, porque, desta forma, ninguém o poderá acusar de não ter tentado todas as soluções possíveis (e ele próprio, já com a cabeça à roda, não ficar a pensar no que teria acontecido se tivesse feito isto e não aquilo).
3 - Reparem que até escrever sobre isto é confuso e absurdo. Imaginem então no jogo, com as emoções que ele provoca e a metralhadora de pressão da decisão na cabeça do treinador que a tem de tomar. Com as cinco/seis substituições, ele como que vira a metralhadora para o... jogo (e até para a sua própria equipa e jogadores). E dispara.
Não faz sentido. É disfuncional para o jogo a todos os níveis. É virar o jogo ao revés. Negar o pensamento em nome do caos. A pausa em nome da vertigem. Deixa de ser futebol ao colocar a lógica do coletivo em permanente mutação. Será outro jogo. Outra coisa.
Banega é o tipo de jogador que só come uma salada ao almoço
A Champions e a Liga Europa decididas perante bancadas vazias. Ver e comentar estes jogos é entrar na "Twilight Zone" da existência futebolística. Espaço 2020. Mesmo neste cenário, ou sobretudo neste cenário, percebe-se quem são verdadeiramente os donos do futebol. Os jogadores, claro.
Só eles podem fazer com que tudo permaneça emocionalmente possível no meio de tantas adversidades. Gosto de falar de estratégias de jogo, mas o atual endeusamento dos treinadores superou os limites do que acho admissível na paixão pelo debate tático.
Penso nisso enquanto comento o Sevilha-Roma e vejo o banho de bola nos pés de Banega (o tipo de jogador que, por ser tão suave e eficaz em cada toque que dá na bola, se pode adivinhar que só comeu uma salada ao almoço) e o domínio tático de Lopetegui, que viveu tão atacado em Portugal, sobre o novo 3x4x2x1 de Paulo Fonseca. Ele também tinha um jogador para ser dono do jogo, Zaniolo, mas o Sevilha e o plano de caça individual nem o deixaram respirar um metro. Jogadores destes enchem sempre as bancadas. De talento e orgulho.