A propósito de notícias plantadas pelos clubes
A ideia das "notícias falsas" pegou definitivamente no espaço público, mesmo fora das redes sociais, pois se até servem, como serviram, para eleger presidentes como o energúmeno americano
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Reagir à derrota com uma vitória parece ser a palavra de ordem deste SC Braga de Carvalhal. Num jogo difícil, contra um Marítimo que "joga de forma diferente de todas as outras equipas", segundo o treinador bracarense, a equipa voltou a fazer valer o seu coletivo, a sua força comum. Nem sempre com o acerto que se desejava - muitos passes perdidos, alguma desarticulação entre os sectores, ainda que esporádica -, mas o certo é que o Braga venceu uma equipa difícil e bem recheada de bons jogadores.
No final da partida, Carvalhal falou das "notícias" sobre Paulinho e Iuri Medeiros. Considerou lamentável o que tem sido noticiado - por ser absolutamente falso, afirmou - e chegou mesmo a colocar a hipótese da lesão de Paulinho estar ligada a um "sobre-esforço" do jogador no jogo de Alvalade, motivado pelas notícias.
No final da partida, Carvalhal falou das "notícias" sobre Paulinho e Iuri Medeiros. Considerou lamentável o que tem sido noticiado - por ser absolutamente falso, afirmou - e chegou mesmo a colocar a hipótese da lesão de Paulinho estar ligada a um "sobre-esforço" do jogador no jogo de Alvalade, motivado pelas notícias. Estas notícias, que visam transferências hipotéticas e interesses espectrais de clubes em jogadores bracarenses são recorrentes, principalmente antes dos jogos com os três habituais "clubes do costume".
A ideia das "notícias falsas" pegou definitivamente no espaço público, mesmo fora das redes sociais, pois se até servem, como serviram, para eleger presidentes como o energúmeno americano (que agora se recusa a sair), certamente servirão para um propósito bem mais humilde de criar instabilidade num plantel de futebol. Não culpo os meios de comunicação. Ando há muitos anos no futebol e conheço bem o que os gabinetes de comunicação de clubes com menos escrúpulos podem fazer, como conseguem fabricar notícias em prol dos seus objetivos. No caso dos designados três grandes , a coisa até está facilitada. Como estes clubes dominam cerca de 99% do espaço narrativo mediático português, nenhum jornal ou rádio ou tv se recusa a trazer ao público uma "notícia" que lhes é passada, em off, por um gabinete de comunicação de um destes clubes. Afinal, trata-se de uma fonte oficial. E, por isso, nem sequer se lhes exigem provas que demonstrem a veracidade da "notícia". Tem muito a ver com a lógica da conspiração, como bem demonstram Russell Muirhead e Nancy Rosenblum, no livro "A lot of People Are saying" : ao contrário das antigas teorias da conspiração ( o assassinato de Kennedy, a morte de Diana, os ETs de Roswell, etc...), cujos defensores se esforçavam para reunir várias provas para as apoiar, as novas conspirações são "sem teoria".
Por exemplo, Trump afirma: "a eleição foi uma fraude!"; quando se lhe pedem provas, ele argumenta logo com "toda a gente sabe disso, não falta quem o afirme" ou " não estou a dizer que seja verdade, mas não podemos ignorar que pode ser verdade, é preciso investigar". É uma atitude inteligente, nestes tempos do "pensamento rápido": se Trump não finge sequer que tem provas, não há nada que possamos fazer para demonstrar que é mentira. É esta a força (e o perigo) destas notícias falsas: não há como as refutar. Por isso, como diz Carvalhal, no caso do Braga, o que temos a fazer é responder com vitórias. No caso dos democratas, teremos que pôr a democracia em ação, preferindo a verdade à falsidade da conspiração.