CARA E COROA - Um artigo de opinião de Jorge Maia, diretor do jornal O JOGO
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Se houvesse dúvidas sobre Rui Borges, enquanto sucessor de João Pereira, o facto de o ex-treinador do Vitória de Guimarães ter aceitado entrar em Alvalade na semana que antecede o clássico com o Benfica haveria de ser suficiente para dissipar algumas delas. Frederico Varandas tentou proteger João Pereira de uma entrada semelhante, quando exigiu a Rúben Amorim que ficasse para os jogos com o Manchester City e o Braga, mas não conseguiu mais do que elevar a fasquia das expectativas em relação ao novo treinador para um nível inalcançável.
Rui Borges revela coragem, ao assumir a liderança dos leões num jogo como o dérbi, especialmente este, que tanto pode deixar o Sporting no primeiro, como no último lugar do pódio. Mas também revela inteligência. Agora mesmo, as expectativas dos adeptos leoninos estão nos níveis mais baixos dos últimos anos e o novo treinador tem a tolerância acrescida de ter chegado há apenas três dias. O que o deixa naquela zona confortável onde há tudo a ganhar e quase nada a perder. Uma vitória devolverá os leões à liderança do campeonato e sinalizará uma reação imediata à troca no comando técnico, garantindo um crédito junto dos adeptos e até dos jogadores que pode ser essencial numa altura em que o calendário vai continuar a apertar com jogos de elevado nível de dificuldade. Uma derrota, em contrapartida, não lhe será cobrada diretamente, desde logo por ter acabado de chegar a uma casa a arder. Depois, ainda há a possibilidade de o jogo acabar empatado, o que, não sendo o ideal, mantém o Sporting dependente apenas de si próprio para chegar ao primeiro lugar quando Rui Borges tiver tempo para impor as suas ideias à equipa.