PLANETA DO FUTEBOL - A opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 - O problema, na raiz, não é perder o controlo da posse da bola. É sentir, de repente, uma equipa adversária a pressionar alto, condicionando saída e construção ofensiva como nenhuma equipa portuguesa, fora do contexto dos clássicos, faz no nosso nível interno.
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O PSV faz isso sem receio de perder o controlo da profundidade (um maior risco na simbiose pressão alta-controlo da profundidade) e com isso tirou o 3x4x3 encarnado da sua zona de temporização confortável (entenda-se poder de manejar os diferentes ritmos de jogo) a meio-campo, o espaço onde a dupla Weigl-João Mário sentiu a leveza do seu ser perante a subida de intensidade de pressão (encurtamento de espaços) do trio intermediário holandês (em 4x3x3) subido com o sector em bloco.
2 - Quando Jesus, no momento mais difícil do jogo (o da total perda do seu controlo), meteu quatro novos jogadores simultaneamente, entre eles Meité (saindo Weigl), queria, em suma, "engrossar" a equipa e, sobretudo, a ação central dos médios, evitando que as ruturas holandesas os virassem ao contrário. Quis continuar no jogo quando então o que já se exigia, face à superioridade do PSV, era que, segurando a bola ou forçando paragens, não deixasse "haver jogo".
É um erro, porém, avaliar toda esta perda de controlo do Benfica na segunda parte devido a quebra física. Mesmo com desgaste, não foi isso. Foi antes a incapacidade de neste nível alto de intensidade tático-agressiva de jogo ser incapaz de ter/segurar a bola (posse), o que faz bem no campeonato português mas que se desvanece neste nível superior. Precisa do terceiro médio (de raiz ou de compensação) e precisava de capacidade para meter nuances de estratégia controladora num modelo de jogo de características opostas. Nada disto é físico. É tático.
3 - Depois de ver todos os contornos do jogo da Luz (impacto inicial de ataque encarnado, período longo de controlo holandês a atacar na segunda parte) a sensação/questão que fica para a segunda mão é: será o Benfica capaz de ganhar a eliminatória na Holanda jogando em contra-ataque?
É possível com um plano de jogo preparado em especificidade para travar e enganar este adversário (que, entre outros, tem um pernilongo tecnicista, Madueke, que por toda a frente de ataque come defesas e metros com grande classe, veloz e objetivo).
Jesus pode até repetir o onze mas o jogo de Eindhoven exigirá uma estratégia tática até hoje não usada por este Benfica. É a necessidade nova que coloca um confronto, afinal, diferente de todos que tem numa dimensão competitiva mais curta em contraste com esta, a mais alta internacional.
Zaidu também tem coração
A necessidade do FC Porto contratar um lateral-esquerdo é evidente. A exposição de Zaidu nessa situação é claramente excessiva. Nenhum jogador salta em um ano do Campeonato de Portugal para a Champions sem sentir as suas limitações expostas da forma mais implacável. O erro em Famalicão pode ser relativizado por, em rigor, falar-se de um passe errado a cerca de 70 metros da baliza. Falhou-o, é verdade, para onde nem o devia ter feito, o espaço central com a equipa toda subida (o mais perigoso para lançar um contra-ataque) mas depois disso existiu um abismo de relva percorrido. Mérito da visão de contra-ataque bem feito pela equipa do Famalicão. Incrível como não vi essa jogada ser analisada pelo prisma ofensivo da execução famalicense.
Zaidu tem as suas qualidades e limitações. Algumas, claramente, maiores do que outras. É (era) um jogador ainda a ser formado para equipa grande (jogador de plantel antes de onze). A saída de Alex Telles e os elogios descontextualizados após jogos iniciais, precipitaram-no para um local em que nem consegue ser ele próprio. Um processo que, desde o início, no melhor e pior, nunca mediu (nem teve) as proporções certas.