VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
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O último “derby” da época acontece no Dragão com uma carga emotiva que em muito transcende o penúltimo jogo do ano, a derradeira partida em casa ou um resultado pré-definidor de pódio. Encontro de eras, passagem de testemunho, emoções afiadas que encerram uma época em formato visitado com uma neblina na pontuação que nos atira para um jogo de compensações que só termina na última jornada e com possibilidade de redenção parcial no final da Taça. Hoje, a noite no Dragão serve-se como despedida e com obrigação de ganhar, cumprindo o que o FC Porto foi, é e será.
Acreditar até ao fim. A vitória do Braga em Guimarães, nos últimos momentos-minutos do jogo, não deixa qualquer margem para dúvidas sobre quão decisiva será a última jornada. Um desafio de carácter para portistas e arsenalistas. O Braga já mostrou, por diversas vezes, que não se abate com facilidade durante o jogo, procurando ser feliz até ao último sopro. Os factos são indesmentíveis: ganharam mais de uma mão cheia de jogos nos últimos minutos. Tal como sucedeu frente ao Casa Pia, ontem desenlaçaram o empate com crença e obstinação frente ao Vitória. Tal e qual como acontecera frente ao Gil Vicente, Farense, Famalicão, Moreirense ou Rio Ave. Tal como sucedeu frente ao Vizela. Tal como não soçobraram com resultados apertados por apenas um golo contra Estoril, Moreirense ou Arouca. Não há nenhuma outra equipa assim esta época. O Sporting de Braga vai dar tudo frente ao FC Porto e só aos azuis e brancos compete poder entrar na Pedreira a jogar com dois resultados. A vitória frente ao Boavista é imperativa.
Não é esperada uma metamorfose colectiva no jogo de Sérgio Conceição. Com um onze titular que se adivinha, a grande equação joga-se na força anímica e na componente emocional que tantas vezes andou arredia. A leitura e expressão corporal da equipa interessa. Fora dos balneários ou dos corredores do Olival, é no campo que a expressividade dos jogadores mais conta. Como escreveu Carlos Tê e cantam os Clã, “só para dizer que te amo, não sei porquê este embaraço”. Sabendo que ficam a dever a si mesmos mais do os mornos resultados que conseguiram, um penúltimo assomo de ligação à corrente é esperado. Ganhar um troféu. Os adeptos merecem acreditar que a rampa de lançamento para a final do Jamor está a ser palmilhada com rigor a crença, para resolver no último minuto da temporada o que ficou por fazer em grande parte da época.