A muçulmana que não quer cumprir as regras
Poderemos discutir se uma questão de cores se deve sobrepor a razões médicas, mas a verdade é que a notícia deixara de o ser à nascença: o árbitro tinha feito cumprir o regulamento, ponto final
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Há dois anos alertaram-me para uma possível notícia: num jogo de andebol, o árbitro não tinha permitido a um jogador continuar em campo usando a sua habitual manga de compressão (ou manguito, como dizem na modalidade); como ele a tinha por razões médicas - e eu sabia do terrível acidente que havia sofrido no braço direito -, acabou por não jogar. A situação seria tão grave quanto estranha, pois os "manguitos" são comuns nas modalidades de pavilhão, mas quando a investiguei percebi que em causa estava a cor, que o regulamento obriga a ser igual à do equipamento.
Poderemos discutir se uma questão de cores se deve sobrepor a razões médicas, mas a verdade é que a notícia deixara de o ser à nascença: o árbitro tinha feito cumprir o regulamento, ponto final. E na semana seguinte o jogador já tinha um "manguito" da cor correta, portanto voltou a jogar.
Esta semana, o JN decidiu relatar o caso da jovem basquetebolista muçulmana Fatima Habib, que fora impedida de jogar pelo CB Tavira por utilizar um lenço e uma t-shirt que os regulamentos não permitem. A notícia está bem feita e extremamente completa, tanto que responde à própria questão que coloca: explica a regra sobre equipamentos feita a pensar nas jogadoras muçulmanas, a Federação Portuguesa de Basquetebol revela as irregularidades que levaram o árbitro a agir e até o Imã da Mesquita de Lisboa diz que "o que importa são as regras do jogo".
Muitos fizeram leituras enviesadas, poucos se preocuparam com a existência de regulamentos, e o CB Tavira e a jovem paquistanesa, provavelmente empurrados pela habitual onda de indignação das redes sociais, ameaçam subir a parada
O que se seguiu foi triste.
Muitos fizeram leituras enviesadas, poucos se preocuparam com a existência de regulamentos, e o CB Tavira e a jovem paquistanesa, provavelmente empurrados pela habitual onda de indignação das redes sociais, ameaçam subir a parada e colocar toda a equipa a jogar com lenços de comprimento excessivo e t-shirts de manga comprida por baixo do equipamento.
Esperemos que os algarvios ganhem consciência do erro que estão a cometer, pois nesta história nunca haverá vencedores e o argumento religioso não faz sentido. O que está em causa é muito simples: existe um regulamento, para muçulmanas, e é esse que a sua jovem se recusa a cumprir.