Antecipo já os resultados portugueses nos Jogos Olímpicos. Alguém vai falhar medalhas e vamos pôr-lhe às costas décadas de políticas desportivas sem dono, nem remissão
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Se o mundo fosse uma turma de educação física, Portugal seria aquela menina asmática, de óculos e botas ortopédicas, que fica sentada no pavilhão a fazer os deveres de geografia. Não estou a hiperbolizar. Até acredito que, em medalhas olímpicas, esteja perto da proporção real.
Como sinto que repeti a tristeza dos números do desporto umas dezenas de vezes na carreira, poupo-me a essa tortura, mas lembro o estudo que as federações, mais o Comité Olímpico e a Confederação, despejaram em cima do Governo há uma semana. Eram poucos os clubes e os praticantes, menos do que tinham a maioria dos outros países europeus, e agora são menos, levados pela pandemia e pelo cansaço.
Mais uma vez, chega o barómetro dos Jogos Olímpicos para julgarmos culpados disto tudo os quatro ou cinco atletas de elite que, apesar do cenário hostil, conseguiram fazer-se e que, fatalmente, vão falhar medalhas. A responsabilidade será deles, porque elevaram as expectativas acima do que o desporto no país merece. Mais tarde faremos contas, para saber se o Estado pagou a mais ou a menos.
Voltando à imagem da aula de educação física, o professor que acha (ou aceita) o desporto dispensável para meninas asmáticas e de botas ortopédicas, mas também para as que não querem partir as unhas de gel, as que foram ontem ao cabeleireiro, os rapazes que moram no McDonalds, os que têm uma unha encravada, etc., reduz o problema a uma questão de dinheiro: se der uns trocos aos poucos que restam, eles ganham medalhas.
O sucesso desta brilhante teoria com várias décadas estará mais uma vez à vista, agora em Tóquio, felizmente sem público ao vivo.