A maturidade de Pizzi e o agitador Nakajima
TÁTICA DO PROFESSOR - A crónica semanal de Jesualdo Ferreira em O JOGO
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1 - Quase em jeito de balanço do que já correu nesta época, bem se pode dizer que Pizzi é o melhor jogador do campeonato, pelas assistências que faz, pelos golos que marca, pelas exibições que assina, todas de alta qualidade. E com uma relação com o golo que é de facto surpreendente.
A maturidade de Pizzi que faz dele o melhor na atualidade
Parece que em cada remate que efetua, faz o golo. É essa a ideia com que nos deixa de cada vez que o vemos atuar. Tem sido assim nos últimos jogos, embora não tenha começado a época ao nível a que está hoje, o que é normal acontecer com muitos jogadores, por uma série de razões, que têm a ver com a pré-temporada, com os processos de jogo, com o "aquecimento dos motores", perdoem-me a expressão.
Pizzi tem 30 anos e, para muitos, espanta que só agora ele comece a ter um protagonismo tão forte, mas também há razões para isso. Pizzi era originalmente um médio a jogar nos extremos; com os anos, começou a ocupar outras posições, mais frontais à baliza, aproveitando muito bem o jogo lateral da equipa. Digamos que ele soube aproveitar os processos da equipa, que, por sua vez, passou a ter em Pizzi um elemento fundamental para que a dinâmica funcione.
Pizzi surge em zonas mais frontais, onde ganha com frequência as segundas bolas, surgindo muito bem nas áreas de finalização. Não é por acaso que leva 19 golos em 25 jogos, mais quatro do que aqueles que marcou na última temporada.
Há outra explicação para este momento que Pizzi vive: a maturidade, que lhe permite compreender muito melhor o jogo, controlar as emoções, saber ser importante. A mesma maturidade que lhe vai permitir reagir com serenidade quando as coisas não forem tão boas como são neste momento. Sim, porque isto não dura sempre, vai haver períodos em que as coisas não vão correr tão bem, e aí Pizzi saberá como não entrar em pânico.
O estado de graça que vive hoje tem a ver também com a confiança que os golos lhe dão e com o momento muito bom que a equipa vive, e que também tem bastante a ver com as suas exibições, o seu sentido de oportunidade, a sua capacidade para gerir os tempos e entender muito bem o processo de jogo de Bruno Lage. Enquanto durar, será sempre uma mais-valia para a equipa do Benfica.
Shoya nunca deixou de ser um agitador, um futebolista com uma qualidade extraordinária
2 - Há outro futebolista a querer dar cartas no futebol português. Trata-se de Shoya Nakajima, de quem muito se esperava quando regressou nesta época a Portugal e, em concreto, ao FC Porto. Nakajima saiu do Portimonense como um craque, a deixar saudades no futebol português, e defrontei-o como adversário no Catar, quando ele jogou no Al-Duhal.
Jogou pouco, é verdade, porque não se adaptou, como acontece com muitos futebolistas que chegam ao Catar e não se dão com o calor, com métodos de treino diferentes, com o próprio futebol que ali se joga. Não tem a ver com a qualidade dos futebolistas; é muito difícil a adaptação e há muitos que, apesar de alertados, não o conseguem. Não foi boa a passagem de Nakajima pelo Catar, mas o seu regresso a Portugal criou uma enorme expectativa.
E, se calhar, foi com essa expectativa que o japonês não soube lidar. Não é fácil chegar ao FC Porto e vencer. Mas Shoya nunca deixou de ser um agitador, um futebolista com uma qualidade extraordinária. Não terá aptidões para a pressão que o futebol portista costuma impor, mas é um criador de espaços e terá de aprender a defender nesses espaços que cria. Hoje já começamos a ver um pouco de tudo isto. Já começamos a ver o verdadeiro Nakajima, e não tenho dúvidas de que irá ser muito importante no futebol portista.
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