A frase, repetida pela enésima vez "É verdade que [Ronaldo] ainda marca golos, mas se queres uma equipa pressionante, intensa, que jogue um futebol moderno, não podes ter Cristiano".
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Em Inglaterra não sabem, mas andam há quase seis meses a discutir a seleção portuguesa de futebol. Esta frase de Perry Groves, antiga figura do Arsenal, é igual a dúzias que troquei com o João Ricardo Pateiro e o Luís Freitas Lobo no nosso programa semanal na rádio TSF: "É verdade que [Ronaldo] ainda marca golos, mas se queres uma equipa pressionante, intensa, que jogue um futebol moderno, não podes ter Cristiano."
Groves é o enésimo comentador a fazer esta leitura, bastante óbvia quando se vive dentro do vigoroso campeonato inglês. Os primeiros avisos chegaram logo no momento da contratação. Dezanove jogos de campeonato mais tarde, o título está fora de questão e o Manchester United perdeu ou empatou mais jogos do que venceu.
A administração validou a leitura dos críticos ao contratar o treinador-guru da atual doutrina da pressão e da intensidade, mas o alemão Ralf Rangnick não conseguiu ainda transformar Ronaldo num pitbull do ataque e mesmo os colegas lá de trás, em geral, dispensam bem o açaime. Já não se aplica a velha perplexidade lusitana: no United, os internacionais portugueses jogam exatamente o mesmo que têm jogado na Seleção. Semana sim, semana não, os adeptos dos "red devils" levam com um Portugal-Sérvia ou um Irlanda-Portugal. As mesmas dificuldades, a mesma diferença de andamento para adversários famintos por cada centímetro do campo. Em março, quando chegar o play-off do Mundial"2022, o problema voltará a ser português, com a diferença de que, por cá, os Perry Groves estão em minoria, embora isso faça pouca diferença. No atual contexto, pedir a Portugal que jogue como o Liverpool ou como o anacrónico Brasil de 1982 dá quase no mesmo.