A importância das últimas palavras e a queda dos colossos nos oitavos de final
PLANETA DO EUROPEU - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Os oitavos desfizeram vários candidatos. França, Alemanha, Portugal, Holanda e Croácia. Cada qual transmitiu sensações/razões diferentes na hora da partida.
A queda da França sucede quando, em rigor, a equipa tanto elogiada após o primeiro jogo com a Alemanha já não estava em campo (Deschamps tirara Griezmann para defender com Sissoko os últimos minutos, e Rabiot, brilhante no meio-campo dum 4x3x3, era lateral-esquerdo) e o que restava dela (defendendo num 4x4x2 desarticulado) perdera as referências de força. Foi então que, já nos descontos, Pogba perdeu a bola no meio-campo e uma clareira abriu-se no corredor central para os suíços a invadirem e fazerem o golo.
É a eliminação com mais responsabilidade do treinador, tal a forma como Deschamps mexeu tanto na equipa. Após o belo 4x3x3 inicial, quis gerir demais em termos táticos (estratégicos) e físicos. Sem lógica.
Mudou quatro vezes de sistema (4x3x3, 4x4x2 losango, 3x4x1x2, a defesa a três da primeira parte contra a Suíça que abandonou ao intervalo para montar, por fim, um 4x4x2 clássico.
Alterações excessivas que retiraram a equipa da sua melhor casa tática global, confundiu princípios e aniquilou, no momento decisivo, Rabiot e Griezmann (ao mesmo tempo que descobria como, afinal, o motor Kanté é humano e não conseguia, sozinho, aguentar o peso de toda a equipa em cima).
2 - Os Países Baixos podem falar da expulsão e inferioridade numérica na segunda parte contra a Chéquia mas já antes a equipa não conseguira ligar meio-campo ao ataque. A principal mudança foi (mantendo o 3x4x1x2) o trocar uma peça da dupla atacante: tirou um nº 9 forte de referência, Weghorst, e apostou numa dupla de falsos 9, Depay-Malen, que retirou complementaridade a uma dupla que assim perdeu poder de arrastamentos, que abriam espaços a quem entrava de trás. Tornou-se circularmente previsível com bola.
Bastou um onze checo rigoroso a marcar e eficaz nas oportunidades para ganhar. Um caso em que a ideia de jogo caiu pela mudança dos princípios de jogo ofensivos (diretamente relacionados, neste caso, com as diferentes características dos jogadores).
3 - A Croácia caiu, num jogo louco, contra a equipa que gosto mais de ver jogar neste Euro, a Espanha. Após uma primeira fase hesitante, a consistência que aquele meio-campo Brozovic, Kovacic e Modric dá à equipa é sempre garantia de qualidade. Para jogar e para reagir.
Dalic mudou os avançados no decurso do jogo, acabou a atacar com criatividade e raça, guiado então só pela dupla Brozovic-Modric. Perdeu (como podia ter ganho) quando o jogo caíra, incontrolável, num caos qualitativo. Não importa. Assim, volto outra vez quando a Croácia voltar a jogar.
A eliminação da Alemanha
Em Wembley, o património histórico do futebol atingiu o máximo. A eliminação da Alemanha sucedeu num jogo em que a dimensão tática atingiu um nível de decisão mais alto de todos os jogos dos oitavos de final. A mudança da Inglaterra (que passou do 4x3x3 para um sistema de três centrais) traduzia-se numa linha defensiva a cinco que, mantendo os laterais (Trippier-Shaw) em cobertura, fecharam sempre espaço de invasão na faixa aos... laterais adversários (Kimmich-Gosens).
Nesse princípio de contra-estratégia (condicionando por opção o jogo ofensivo dos seus laterais às obrigações defensivas) o posicionamento inglês retirou a largura com profundidade de ataque ao jogo alemão. A Hungria, embora num bloco mais baixo por sistema, também o fizera. A exibição avassaladora que Gosens fez contra Portugal foi caso único neste Euro. Nos jogos seguintes, nunca teve esse espaço para receber e avançar.
Sem essa largura dos laterais indispensável a quem joga num sistema de 3x4x3, o modelo alemão de Low não soube criar em jogo interior, revelando não ter preparado um plano B, com um terceiro médio por dentro. Insistiu no mesmo sistema e movimentos. E caiu agarrada às insuficiência das suas convicções.