A ilusão do controlo
O pior que pode acontecer a uma equipa em campo (e quem vê o jogo de fora) é ficar convencida de que tem o jogo controlado, sem o ter
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1 - A intenção de fechar o adversário numa jaula no centro do terreno (por onde causara problemas no primeiro jogo) e depois tentar derrubá-lo a partir dos flancos percebia-se na forma como Conceição montara o onze portista como nunca antes fizera. Nem era só a questão dos três centrais; era toda a movimentação interligada que havia necessidade de construir, a partir daí, na relação entre os jogadores.
A chave para a estratégia funcionar estaria no poder tático de agarrar o jogo no centro através dos dois médios-interiores subidos do meio-campo: Uribe (interior-esquerdo) e Otávio (interior-direito). Ao falharem essa missão (por eles e na relação com colegas próximos, entenda-se central a sair, lateral a subir, segundo avançado a mover-se), a equipa (e a estratégia) acabou aprisionada dentro de si própria.
Quando o Rangers e seu trio de médios "piranhas", junto com avançados perigosos-pressionantes, perceberam o que se passava (após surpresa inicial), pegaram no tal centro do jogo e o onze portista nunca mais se conseguiu soltar das amarras que criara a si mesmo.
2 - As alterações (forçadas e por opção) realizadas logo no início da segunda parte (após lesão de Pepe) ainda tornaram mais forte esse "autocolete de forças tático" em que a equipa se metera, pelo seu próprio sistema e pela dificuldade de os jogadores se libertarem dele quando recuperavam a bola e queriam fazer a transição defesa-ataque, ou serem mais objetivos na frente a rematar.
Corona passara outra vez, desoladoramente, do avançado-extremo solto mais criativo e perigoso para lateral. O jogo acabava sem um único remate portista à baliza (tirando o desvio de Pepe logo no inicio, que quase entrava). No fim do jogo, na atmosfera do Ibrox de Glasgow, ficava no ar uma sensação estranha: que FC Porto estivera, afinal, aqui esta noite? É verdade que os sistemas não têm vida própria, mas deles depende a vida que o treinador quer que a equipa tenha em campo através dos seus princípios de jogo, que lhe incute.
3 - O pior que pode acontecer a uma equipa em campo é ficar convencida de que tem o controlo, sem o ter. Isto é, a sensação de que pode até não estar a conseguir atacar, mas, ao mesmo tempo, não sente a ameaça iminente do perigo adversário. Em geral, isto também passa para as bancadas. É a maior das ilusões e, no comentário ao jogo, em direto, alertei para isso, nessa fase em que se dizia que o jogo estava controlado. Não estava. Era, pelo contrário, o pior momento. E infelizmente confirmou-se. Em poucos minutos, o Rangers fez dois golos. E matou o jogo que todos erradamente achavam controlado, uma coisa impossível no futebol e muito menos naquele caso concreto.
Zangado ou professoral
Sporting e Braga salvaram, nos resultados, esta perturbante semana europeia em que Benfica e FC Porto ficaram emaranhados nas teias que criaram a si próprios (quer pela estratégia tática, no caso portista, quer pelas opções discutíveis para o onze, no caso encarnado). Tudo demasiado esotérico, até, nestas decisões e na forma como foram encaradas ou explicadas, no fim, pelos treinadores. Em tom zangado ou em tom professoral. Em qualquer caso, ficou a sensação de terem percebido o que se passou, mesmo que não o digam, como estratégia de comunicação e gestão do grupo para os próximos jogos. Há coisas que têm de ser resolvidas por dentro, falando abertamente. Acredito que seja isso que se passou nestes dias nas duas casas maiores do nosso futebol.
No Sporting, novamente Bruno Fernandes. Assim mesmo. O nome dum jogador e está explicada a equipa quando joga melhor e ganha. No Braga, novamente o ar europeu mais solto que permite à equipa meter mais vezes a bola no chão a triangular e, em vez de cruzar tanto, fazer os passes certos para a área a solicitar finalização precisa.