JOGO FINAL - Uma opinião de José Manuel Ribeiro
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O contrato entre Braga e FC Porto para a transferência de David Carmo estipula que cada título de campeão nacional do clube comprador valha mais 500 mil euros ao clube vendedor. Braga e FC Porto jogam na mesma liga, pelo mesmo título. Liverpool e Manchester City aceitaram essa cláusula nos negócios de Jota e Grealish e o Benfica já fizera algo parecido (apuramento para a Champions) com o Moreirense por Chiquinho.
Há tantas razões para se interrogar a ética do Braga, no contrato de venda de David Carmo, como a ética do Aston Villa e do Wolverhampton. A diferença está no que portugueses e ingleses acham verosímil.
Chamar-lhe atropelo à ética, como li e ouvi, é um pouco ao lado, porque o eventual atropelo não está na cláusula: está em levar a sério a hipótese de que o Braga chute contra a própria baliza para viabilizar um FC Porto campeão. Ou seja, reside na imagem que quem levanta o problema formou do Braga (ou do FC Porto e depois do Braga por afinidade). Em Inglaterra, o conflito de interesses das ditas cláusulas nunca foi sequer tema porque não passa pela cabeça do inglês comum que os donos do Aston Villa e do Wolverhampton possam reunir os seus 25 jogadores, mais as equipas técnicas altamente profissionalizadas, para lhes ordenarem que percam os jogos com o Manchester City e o Liverpool.
O conflito de interesses é verdadeiro; o julgamento implícito é ofensivo. E há uma razão para estas cláusulas: encontrar um objetivo que não seja tão inverosímil que o clube vendedor nunca chegue a receber o bónus (os internacionais, por exemplo), nem tão simples que melhor seria pagar logo os 22,5 M€ (número de jogos de Carmo, por exemplo). Não é difícil perceber. Mas sim, confirma-se que na Liga portuguesa não há higiene suficiente, nem saúde mental, para negócios destes e que seria melhor evitá-los. Quando são, por regra, os próprios clubes a levantar suspeitas levianas sobre os seus semelhantes e a encorajar comentadores a ser ainda mais irresponsáveis, ninguém pode lamentar-se de que a paranoia dos portugueses supere tanto a dos ingleses.
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