PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
1 - Jogos com o Bayern são, hoje, como entrar numa galáxia distante a que só chegam outros (poucos) gigantes sobrenaturais. Merece análise especifica à parte.
Saber jogar diferentes jogos no mesmo jogo é um dos principais segredos de sucesso para uma equipa e seu treinador no futebol atual
A Champions "mais terrena" surgiu antes, com Sporting e FC Porto. Foi, também, mais uma forma de perceber como um dos principais segredos de sucesso para uma equipa e seu treinador no futebol atual: saber jogar diferentes jogos no mesmo jogo.
Num tempo em que o tempo para pensar é cada vez mais curto e o que um jogo (e a equipa) necessita em campo muda numa alternância alucinante, é cada vez mais essa capacidade que define a visão tática dum treinador e poder de mudança de "chip" dos jogadores para os diferentes momentos da partida, que alternam sucessivamente.
2 - Um exemplo, neste ponto individual com perceção coletiva, é o "upgrade" competitivo de Taremi. Inserido na frente de ataque portista composta de três avançados mais um (este, o da metamorfose tácico-ambulante Otávio, entre ala e centro ou entre médio e avançado), o iraniano surgiu como espécie de segundo avançado (atrás de Evanilson) com a missão de, antes de jogar, pressionar.
Aquele lance logo aos cinco minutos, em que esses quatro homens saltaram a pressionar a linha defensiva subida do Milan, reagindo a uma segunda bola após um primeiro ataque italiano, mostrou, por si só, a leitura coletiva agressiva desse momento do jogo (o de recuperação da bola para rápida transição defesa-ataque) expressada individualmente no facto de ter sido Taremi que, mais rápido/decidido, pressionou e ganhou essa bola (sobre o trinco milanês) para depois lançar o repentismo de Luis Díaz.
3 - O remate ao poste (em vez do passe) já nasce da liberdade de decisão do jogador. Antes, como fator decisivo, estava a definição a zona de pressão, como e com quem a fazer. Definindo e ganhando esse momento do jogo, Conceição começou a ganhar margem para ganhar o "outro jogo" que teve de disputar mais tarde no mesmo encontro. Foi quando desmontou o seu 4x4x2 "camelónico" (o efeito Otávio, outra vez) e, tirando um ponta-de-lança (Evanilson), montou um triângulo a meio-campo para, em 4x3x3, fechar taticamente o jogo no meio (para onde foi, juntando-se a Uribe e Vitinha, o viajante Otávio, outra vez como ativador da metamorfose tática).
4 - Tornou-se taticamente um lugar comum dizer que o Sporting nunca muda de sistema por Amorim nunca abdicar da defesa a três mas, na verdade, embora na estrutura inicial esse seja o desenho da equipa, a verdade é que, no decorrer dos jogos, ou mesmo na intenção coletiva inicial, jogo para jogo, esse sistema muda.
Como o Sporting muda de sistema
A mudança de sistema do Sporting não resulta só das naturais dinâmicas de defesa-ataque-defesa mas sim de princípios de jogo iniciais. A raiz da metamorfose está nos elementos da linha de três recuada.
Uma coisa é serem, de origem, mesmo três centrais (Gonçalo Inácio, ou Neto, Coates, Feddal), outra coisa é ao lado de Coates, surgirem laterais (Esgaio e/ou Matheus Reis) puxados para o habitat dos centrais. Isso muda tudo. Desde logo, diz como a equipa quer sair a jogar, dando mais essa responsabilidade aos laterais feitos centrais a sair por dentro, e diz também onde quer posicionar o bloco, de médio-baixo para médio-alto (ou vice-versa).
A diferença feita por quem joga ao lado de Coates
Em Arouca, jogou com dois laterais ao lado de Coates. Nesta opção, tendo os laterais verdadeiros a subir, a equipa fica muito tempo numa linha de quatro atrás, com um dos laterais adaptados a fechar em largura (as costas do lateral subido).
Na Turquia, jogou com três centrais de raiz. Então, já fecha preferencialmente a cinco quando defende mais baixo e pode, até fazer linha de seis. O recuo do trinco Palhinha nunca sucede com três centrais de raiz (nesse caso joga/pressiona sempre mais alto). Se essa linha de três tiver os dois laterais inseridos, já fica posicional mais atrás, como em Arouca.