TÁTICA DO PROFESSOR - O FC Porto tomou conta do lugar do Benfica em termos internacionais, particularmente na Champions, onde acaba de alcançar, mais uma vez, os oitavos de final, e é recordista de participações na prova, a par do Barcelona e do Real Madrid.
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1 - O Benfica foi o primeiro clube português a fazer história regularmente na Taça dos Campeões, e só nesta versão, não na atual. Ganhou em 1961 e 1962, ao Real Madrid e ao Barcelona e nessa década esteve em mais três finais: em 1963, com o AC Milan, onde jogava um intratável Trapattoni..., em 1965 com o Inter de Milão (uma final jogada em pleno S. Siro, logo em situação de desvantagem), e com o Manchester, em 1968, que tinha na altura um rapazinho que nos deliciava, o George Best. Perdeu essas três finais depois das duas que venceu, voltou a estar em mais duas finais, uma delas, em Estugarda, em 1988, que eu vivi por dentro, já que era adjunto do Toni, e dois anos depois com o AC Milan, em Viena, com Eriksson, com um adversário que tinha então um famoso trio holandês (Rijkaard, que marcou o golo da vitória, Marco van Basten e Gullit). Pouco depois, a UEFA criou a Champions nos moldes atuais, mas o Benfica desapareceu dos grandes momentos. Contudo, deixou lá uma marca que transporta para os adeptos uma saudade imensa de tempos áureos, particularmente os vividos nos anos 60, e que determinaram também a constituição de uma das melhores seleções portuguesas de sempre, que viria a conquistar o terceiro lugar em 1966, prejudicada pela organização, em pormenores tão importantes como o local onde se jogou com a Inglaterra.
"O Benfica deixou uma marca forte na Europa que carrega de saudade os adeptos"
2 - Hoje, a situação é muito diferente. O FC Porto tomou conta do lugar do Benfica em termos internacionais, e particularmente na Champions, onde acaba de alcançar, mais uma vez, os oitavos de final, e é recordista de participações na prova, a par do Barcelona e do Real Madrid (23 vezes!), tendo um total de 78 vitórias, algumas delas conseguidas comigo ao leme (dirigi o FC Porto em 34 jogos da Champions). Mas a história do FC Porto na Europa começou em 1984, em Basileia, onde a equipa jogou com a Juventus a final da Taça das Taças e perdeu por 2-1, numa final polémica. Mas três anos depois, com Artur Jorge e o célebre calcanhar de Madjer, o FC Porto conseguia a sua primeira grande vitória europeia. Foi o princípio da afirmação do clube no futebol europeu. Desde então, foram diversas as conquistas: Taça Intercontinental (2). Liga dos Campeões (1), Liga Europa (2), Supertaça Europeia (1). Um rol de vitórias inigualável pelos outros clubes portugueses de topo. Bem se pode dizer que o FC Porto está talhado para a Champions, porque é um cliente assíduo como só outros dois, o Real e o Barcelona.
"Foram poucas as vezes, neste últimos anos, que o FC Porto falhou esses objetivos"
3 - Desde o primeiro ano em que entrei no FC Porto, o presidente pediu sempre a concretização de dois objetivos: conquistar o campeonato português e passar aos oitavos de final da Champions. Só no último ano é que não consegui esse objetivo, por circunstâncias que pouco têm a ver com o futebol, e que não importa aqui recordar. É que conquistar o campeonato era uma preocupação constante porque, a partir daí, o FC Porto entrava automaticamente na Champions. Foram poucas as vezes, neste últimos anos, que o FC Porto falhou esses objetivos, ou seja, a frequência com que tem combatido na Champions dá-lhe uma dimensão europeia inquestionável. Aliás, em cada vez que joguei a Champions percebi o respeito que o FC Porto tem junto dos adversários e o carinho que congrega a nível das estruturas da UEFA. O FC Porto é hoje, para todos os portistas, pelo menos para eles, um grande motivo de orgulho e a prova de que um clube organizado, ousado, senhor de si, consegue coisas fantásticas, mesmo num universo de milionários, de que não faz parte. E aí está mais uma razão para o FC Porto se sentir orgulhoso. Lutar de igual para igual com os milionários da prova mais mediática do mundo do futebol diz bem da força que tem tido o FC Porto, nunca perdendo de vista a importância de ganhar internamente, e esse será sempre o primeiro objetivo do clube.