PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 É difícil perceber qual o plano que o Benfica tem neste momento para o seu futebol. Quer no imediato para a equipa, quer como política desportiva. Vendo a equipa no presente nunca tenho a sensação de que (ganhando ou perdendo) ela joga com convicção a nível da sua composição e ideologia (onze/plantel e jogo). Vive confundida num limbo existencial em busca de referências que lhe deem um verdadeiro sentido.
Neste contexto, Nélson Veríssimo surge numa posição híbrida de fragilidade que, após a guerra interna que cortou a cabeça de Jesus (o treinador supraestrutura), não lhe dá margem de manobra além da conjuntura do jogo a jogo.
2 Este plantel foi feito duma forma estranhamente desequilibrada que hoje o torna refém de si próprio em função das suas limitações. Ou seja, Veríssimo entrou a mudar o sistema anterior de referência (de 3x4x3 para 4x4x2) mas chocou logo com a limitação de opções para o fazer pelas características dos jogadores (algo evidente sobretudo nos laterais, onde existem cinco direitos e só um esquerdo, que nem podia jogar, todos moldados para atacar e na adaptação de André Almeida, claramente fora de forma física).
O sistema de três centrais, nascido do estatuto do trio titular, aprisionou toda a ideia e dinâmicas alternativas de jogo que a equipa poderia ter. Custa entender essa opção de Jesus (após tantos anos de sucesso com 4x4x2 e suas variantes) em passar para esse sistema totalmente contranatura para as formas como sempre jogou. Mudar agora é, pois, como agir taticamente num trapézio sem rede.
3 Se existisse mesmo essa intenção (que teria de resultar de conversa do treinador com a estrutura de futebol) este mercado de janeiro era ideal para alguns acertos que o permitissem fazer. Não existe, porém, nenhum indício de tal. Nem Veríssimo parece ter hoje essa margem de exigência ou poder nessas decisões, tal o processo que o levou até ao banco (é impossível neste momento descolar da marca de interino). O oposto ao que, no Porto e Sporting, são Conceição e Amorim, dois treinadores de força e autoridade. Ao mesmo tempo, o Benfica torturou e decapitou o seu para agora viver jogo a jogo.
Neste cenário, não admira ver como para os adeptos, durante os jogos, o jogador mais aplaudido seja Gilberto (um lateral longe da qualidade de excelência exigível para o onze do Benfica) mesmo quando corre atrás duma bola que vai irremediavelmente sair pela linha de fundo.
No fundo, aplaude-se o esforço, algo primário com que as bancadas, quando órfãs da expressão dos talentos para admirar, se identificam nestes momentos em que a ausência de valores e referências tomou conta da equipa (estilhaçada a todos os níveis desde dentro).
Craque ou fotocópias de estilo
Dos três grandes, o FC Porto parece ser o único com intenção de movimentação neste janela de mercado. A afirmação indiscutível de Vitinha no onze (como n.º 8 dono da bola/jogo de trás para a frente) abriu o espaço de oportunidade ideal (desportivo e financeiro) para o negócio-Sérgio Oliveira. O seu meio-campo permanecerá com a qualidade intocável.
É clara (face às limitações crónicas de Pepe) a necessidade dum central (que entre e jogue já identificado com o nosso futebol) mas no caso dos laterais essa questão tem de ser enquadrada em face do tipo de jogador que Conceição quer para essas posições. Manafá, Zaidu ou Nanu são fotocópias estilísticas que (na dinâmica de correr muito pela faixa atrás e à frente) um jogador "a sério" como João Mário, no sentido de perceber os diferentes momentos do jogo com superior critério de avaliação (ficar, subir, gerir ritmos), expôs nessas suas limitações por natureza.
Por isso, são lugares que, mesmo com deficit qualitativo ou de especialização, o modelo de jogo de Conceição pode absorver sem se ressentir muito. No fundo, mostra a base da mecanização tático-orgânica em que mesmo com alguns órgãos (posições) debilitados, existem outros mais fortes que os compensam e garantem o normal funcionamento do coletivo.