VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
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Algumas das boas indicações dadas na primeira reunião coletiva no Dragão, frente ao Twente, esperam confirmação na noite de hoje perante um adversário de maior valia que, neste teste, irá colocar outras questões de introdução e desenvolvimento ao FC Porto. Sobram alguns paralelismos. O Atlético de Madrid, tal como os “dragões”, foi terceiro classificado no seu grupo no Mundial de Clubes, saindo da competição sem glória, embora com duas vitórias num grupo “apertado” com PSG e Botafogo. Na Liga espanhola, terminou também em terceiro lugar a 12 pontos do Barcelona, apenas mais um no registo de diferença que nos distanciou do Sporting no fim da época transata (11 pontos). De resto, apesar de jogar mais quatro jogos na Liga espanhola, o mesmo número de golos sofridos (30) e semelhantes golos marcados (68, apenas mais três do que o FC Porto). Números em tudo semelhantes que, no entanto, não disfarçam realidades completamente diferentes. Mas sempre foi frente a adversários de maior teórica valia que o FC Porto nos habituou a ser competitivo, batendo-se de igual para igual para se superiorizar, muitas vezes, pela alma.
À procura dessa alma perdida, entramos hoje em campo no jogo de apresentação do plantel aos sócios e adeptos. A contratação de Jan Bednarek para o centro da defesa é esperançosa e, face à valia do jogador, um nó de marinheiro para uma defesa que precisa de certezas. Apesar do passado polaco nos entregar sobretudo guarda-redes (com Josef Mlynarczyk no absoluto Olimpo), é na frieza e na experiência de alguém já temperado com sangue inglês que reside a descendência de Pepe e Marcano. Pode ser demasiado peso para quem chega, mas a reconstrução e efeito de recomposição não é apenas mental. É o resultado de opções de conceção de um plantel e aí, é necessário saber para onde vamos. A reafinação para o 4x3x3 convoca o regresso a uma normalidade que nos permite jogar num campo que sabemos ter passado histórico e segurança de ADN.
Independentemente das dificuldades que possa criar a um ou dois jogadores, fruto das características próprias que o distanciam dum sistema tático, não há sistemas que tratem como proscritos jogadores imprescindíveis. O caso de Rodrigo Mora é evidente. Apesar de ter perdido uma colocação natural - como a que tinha na época passada no momento em que transportou a equipa às costas para evitar trambolhões maiores - é numa equipa segura e fiável que pode e deve colocar o seu extraordinário futebol à disposição. Será uma questão de tempo até Mora se moldar a outro tipo de exigência defensiva e de agressividade na recuperação da bola, onde será ainda mais jogador e capaz de jogar numa equipa que não seja construída ao seu redor, seja pelo semelhante nível da equipa e dos seus companheiros, seja pela insuficiência competitiva de um coletivo que dele depende. Rodrigo Mora merece uma equipa melhor do que do ano passado e é essa agora que se constrói.