Estes jogos cada vez necessitam mais de médios e menos de avançados nas áreas. Necessitam de quem lhe combata a ansiedade e a anarquia
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1 - A cada estádio vazio, um grande encolhe, e um pequeno engorda. As ideias de jogo têm tido, de início, boas intenções mas rapidamente tudo perde a lógica após começar e salta um jogo excessivamente anárquico de jogadores que parecem correr contra o tempo, como se começassem o jogo a faltar só cinco minutos para ele acabar. O Aves jogou contra o FC Porto justificando os 50 pontos de diferença que existem entre um e outro (líder e lanterna vermelha). No fim, o treinador Manta Santos usou uma palavra "técnica" proibida para descrever a sua equipa e pediu desculpa por ela (pela palavra, não pela exibição, um "direito tático" que lhe assiste para, cada vez mais, ganhar a imagem duma carreira feita na trincheira contra equipas maiores). O Rio Ave virou o conceito ao revés. Fez a melhor meia hora (a inicial do jogo) que vi nos últimos tempos, mas depois (tal como nas Aves no dia anterior) surgiu o esplendor dos subterrâneos do futebolzinho português para emoldurar o resto do jogo.
"As imagem das expressões de Conceição e Lage durante os jogos, sobretudo a partir de meio das segundas partes e a lógica do mais forte está amassada, dizem tudo sobre como a anarquia tomou conta do jogo"
2 - As imagem das expressões de Conceição e Lage durante os jogos, sobretudo a partir de meio das segundas partes e a lógica do mais forte está amassada, dizem tudo sobre como a anarquia tomou conta do jogo (apesar das ordens que gritam). É visível na ansiedade que torna os jogos como fossem velhos filmes do tempo do cinema mudo em projeção acelerada tantas vezes desordenada. Essa sensação assalta-me nos movimentos "sem cabeça" de cada jogador (e do jogo coletivo, em conjunto). É o "futebol Charlot" para o qual ambos os treinadores olham, ora petrificados, ora sem saber bem o que dizer, com os olhos a saírem das órbitas de tanta impotência que sentem em contrariar todo aquele "mundo futebolístico de Chaplin com bola".
3 - Contra dez e nove jogadores do Rio Ave, Lage fez o óbvio de abrir o campo o mais possível (com laterais subidos encostados á linha) e os falsos alas Rafa-Pizzi por dentro, metendo mais pontas-de-lança. Conceição também meteu todos os pontas-de-lança que tinha no banco (Marega, Soares e Aboubakar) mas o momento em que vi o futebol sem a projeção acelerada foi quando saiu o nº9 que já estava em campo desde inicio (Zé Luis) e entrou um menino-médio, Vítor Ferreira, a antítese do "futebol de Charlot". Colocou, em curtos e simples gestos, o ritmo certo e no último minuto fez de "trivela" um passe preciso de golo que, a remate de Marega, um guarda-redes, Szymonek, saído debaixo da relva, negou. Conclusão: estes jogos cada vez necessitam mais de médios e menos de avançados enfiados nas áreas. Necessitam de quem lhe combata a ansiedade e a anarquia.