A "agricultura tática", as individualidades e Benfica com ideias "congeladas"
A nova expressão (combativa) do Sporting; o brilho (coletivo) das individualidades do FC Porto; o vazio (cerebral) do modelo de jogo do Benfica
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1 - Um jogo para "agricultura tática". Temporal, chuva (dilúvio), vento forte, trovada, relâmpagos e um relvado tornado um território de lama, terra revolta e montes de tufos de relva.
Amorim tem, afinal, mais ideias.
Neste cenário, tudo muda quando se pensa no espaço que costuma ser o centro do jogo para ganhar. O meio-campo deixa de ser terreno para jogar. Passa a ser, prioritariamente, para lutar por recuperações de bola. Nestes casos, o normal é o resultado decidir-se mesmo dentro das áreas (como produto do "jogo direto"). Mas Amorim tem, afinal, mais ideias.
Com tempo para pensar num plano alternativo ao seu modelo apoiado (impossível de aplicar), o Sporting soube competir no nível físico e de estilo perfeito/indicado, com dentes cerrados perante cada bola que caía num buraco, para as quais Palhinha crescia numa "multiplicação de aparições" sem nunca deixar abrandar o poder de concentração combativo do coração da equipa por um instante ou metro-quadrado que fosse.
2 - Uma atitude competitiva que mais do que manter a equipa sempre em cima do meio-campo adversário, manteve o perigo do tal "jogo direto" longe de poder ameaçar a sua baliza. Mesmo quando, na segunda parte, o Nacional, em 4x4x2, meteu a dupla possante Riascos-Rochez na frente, nunca deixou que nenhum médio insular conseguisse despejar a bola para a área. O processo defensivo leonino, que tem sido a base da eficácia do seu modelo jogo, encontrava outra forma de expressão adaptada. Foi, nesse sentido, o jogo que (na especificidade tático-combativa da obrigatória adaptação de estilo) melhor soube gerir (no oposto de contra o Belenenses no "batatal seco" do Jamor). O "manual de instruções" do modelo-Amorim ganha novas páginas sobre como disputar (ganhar) jogos.
Em exibição coletiva completa, a qualidade das individualidades do FC Porto fica mais evidente.
3 - Não é por meter mais defesas que uma equipa passa a defender melhor. O Famalicão tem sofrido golos de mais e contra o FC Porto reforçou o centro da defesa. Mas o simples aumento de centrais não se traduziu numa maior capacidade de marcação à dupla de pontas-de-lança portista Taremi-Marega. Percebo a tentativa de encontrar uma solução mas a equipa sentiu-se estranha perante essa opção que contraria, na essência, a ideia de jogo que demonstra desde o início.
Um fator que me salta à vista no FC Porto é como Corona joga a extremo, criando perigo com critério, mantendo as rotinas que adquiriu quando jogava como lateral e que se notam na forma superior como está agora a defender na reação à perda da bola (transição defensiva). Ficou, no seu corpo especialista de extremo, a pele posicional de lateral que vestiu, adaptado. Em exibição coletiva completa, esta qualidade das individualidades fica mais evidente.
As ideias "congeladas"
Não faz sentido dizer que o problema do Benfica é de jogadores (sua qualidade). O problema do Benfica é da sua organização de jogo. Não é uma diferença assim tão ténue. O jogo com o Tondela voltou a provar isso. A superioridade técnica dos seus jogadores era enorme a cada bola que tocavam e trocavam, mas a falta de uma ideia coletiva de construção ofensiva desde trás e a noção de equilíbrio tático a meio-campo para ter a bola sem ter o "jogo partido", tornou um jogo em que as diferenças eram visivelmente enormes num jogo equilibrado na luta defesa-ataque, tal a descoordenação entre a criação e a transição defensiva entre setores do modelo de jogo "encarnado".
É um "vazio cerebral", difícil de entender. Jesus não busca nenhuma alternativa de sistema e os jogadores parecem jogar um jogo de dinâmicas individuais, sem "timing" de temporização que exige a melhor (e mais pensada) leitura de jogo. Como a vitória, neste nível competitivo mais baixo do nosso campeonato, surge na mesma, a questão pode ficar em sossego durante alguns dias. O problema não.