O grande avançado total na Seleção é o Diogo Jota
Ronaldo vive no Olimpo mas quem é mesmo hoje o grande avançado total na atual seleção portuguesa é o Jota. Metam-no numa ala, que ele aparece no meio da área a finalizar (cresce de tamanho para cabecear).
Corpo do artigo
1 - Depois de chocar sem ideias frente à plantação defensiva do Azerbeijão e deixar fugir o jogo taticamente frente à bipolar Sérvia, o jogo no Luxemburgo pedia mais consistência exibicional à seleção portuguesa. Fernando Santos leu os sinais daqueles jogos anteriores e mexeu no onze em função disso.
A ironia com que o futebol gosta de brincar com as análises surgiu quando Félix se lesionou (temeu-se que a nossa capacidade criativa ia sofrer ainda mais)
Um lateral-esquerdo de verdade, Nuno Mendes, e um segundo avançado exuberante a tirar coelhos da cartola, João Félix. Sem necessidade de âncoras como Danilo, juntou um pivot de construção, Rúben Neves, e um nº 8 livre, Renato Sanches. Neste 4x4x2, abdicava do conceito de nº 10 e Bernardo Silva voltava às diagonais desde a faixa direita.
De boas intenções estão, porém, todos os planos de jogo cheios. Sem definir como construir o jogo de trás para a frente e incapaz de reconhecer qual o melhor flanco para avançar, a Seleção começou a andar em círculos com a bola sem encontrar saída para a frente com perigo.
2 - A ironia com que o futebol gosta de brincar com as análises surgiu quando Félix se lesionou (temeu-se que a nossa capacidade criativa ia sofrer ainda mais), mas com o passar de Bernardo Silva para o meio como terceiro médio (entrando Pedro Neto para extremo), a mudança para 4x3x3 passou a juntar melhor, na ligação pelo corredor central, a construção de jogo português. De repente, a Seleção passou a jogar melhor, ou seja, a combinar melhor os passes num jogo apoiado a toda largura do terreno, mas com cérebro no meio. Virou assim o resultado.
Quando ativou o seu triângulo de médios, a seleção portuguesa e o seu 4x3x3 móvel mudaram totalmente um jogo até então enfiado num buraco de ideias. Temendo, porém, os piores fantasmas do Luxemburgo, Fernando Santos, após virar o jogo, resolveu mudar a face desse trio e passou a juntar a ele Palhinha, Rúben Neves e Renato Sanches (devolvendo Bernardo à ala e tirando Jota). De imediato, perdemos o domínio... ofensivo e passamos a tentar viver no controlo... defensivo. Em vez de nos lançarmos no ataque, passamos a lutar por segundas bolas. Foi nesse registo de estilo que confirmámos a vitória.
3 - Ronaldo vive no Olimpo mas quem é mesmo hoje o grande avançado total na atual seleção portuguesa é o Jota. Metam-no numa ala, que ele aparece no meio da área a finalizar (cresce de tamanho para cabecear). Metam-no no meio, e ele foge às marcações pelos flancos. Em síntese, está sempre... metido no jogo. Seja em que sistema for, seja a partir de que espaço for. Leitura perfeita do jogo e sentido de baliza. Da técnica à força mental, um craque completo. Moral do jogo: Ganhámos, sentimos (mesmo a perder) como éramos muito superiores, mas, afinal, como queremos jogar?
Mykolenko > Lateral-esquerdo
Um lateral-esquerdo ucraniano forte e rápido, seguro a defender (também faz lugar de central) e solto a atacar a profundidade, causando perigo, em tabelas ou iniciativas individuais. Com uma margem de progressão enorme, Vitaly Mykolenko, 21 anos, também aguenta o choque e dá referencias ao ala e interiores sobre como aguentar toda a meia-esquerda. Formado desde sempre no Dínamo Kiev, onde hoje alinha na equipa principal, é uma aposta segura para qualquer grande europeu.
Ibraimovic > Rock-star
A ultima "rock-star" do futebol mundial não resistiu e, mesmo a bater nos 40 anos, regressou à seleção sueca. Recordo ter comentado, no Euro 2016, o seu último jogo, da retirada e dentro de uma limitada seleção sueca, como senti que era mesmo o fim da linha. Ele já não conseguia, sozinho, mudar o curso do destino coletivo. Este regresso é mais um ato da sua forma de vida: um constante desafio aos limites. Dificilmente irá mudar o destino (a equipa não melhorou), mas o futebol não seria nada sem personagens como esta. Em vez da sua simples imagem, transmite-nos as crenças, de rebeldia e força, que vêm com ela. Devia poder jogar para sempre.
Kalajdzic > N.º 9 da Áustria
Um ponta-de-lança físico, gigante (1,99m) ágil e de oportunismo. De origem sérvia, Sasa Kalajdzic cresceu no futebol austríaco (sobretudo no FC Admira) e agora, aos 23 anos, ganha robustez na Alemanha, no Stuttgart. Não é muito dotado tecnicamente, mas é forte a aguentar o seu momento entre os centrais, a dar em apoios e evoluído no jogo aéreo (como no belo golo, cabeceamento lutando com centrais nas alturas, que fez na Escócia). Se cumprir a margem de evolução, é um nº 9 para não perder de vista.
>> Da Rússia à Escócia
Nas notas tiradas vendo os jogos do início do apuramento para o Mundial, impressiona cada vez mais ver o monstro em que se está a tornar Dzyuba como ponta-de-lança da Rússia. Esse impacto vem de, aos 32 anos, atingir a melhor união entre ganhar todas as bolas aos centrais mais duros e a sua evolução técnica de remate. Dinamitou, desta forma, a defesa da Eslovénia.
Um caso de como o passar dos anos e a experiência adquirida ao mais alto nível (no Zenit) deram a sabedoria para jogar com a sua natureza física, acrescentando muito trabalho de técnica. Apoiado por Golovin, forma uma dupla de criatividade e força que torna temível o ataque russo.
Continuo a torcer para a Escócia reconstruir uma seleção forte. Vai ao Euro (saída das profundezas da Liga das Nações) e há um jogador que, num onze que tem McTominay a mandar no meio-campo recuado, é o grande catalisador ofensivo: Ryan Christie. Jogando nas costas do ponta-de-lança, controla a bola e faz a diferença no passe e ruturas. Tem 26 anos, alinha no Celtic e nunca jogou fora da Escócia (antes esteve no Aberdeen e Inverness). É jogador para níveis mais altos de liga inglesa, os relvados ideais para o "braveheart" escocês se expressar na melhor dimensão. Como o de Christie.