Haverá uma razão para essa mudança de opção de Bruno Lage
Cervi como objeto de estudo e o reaparecer do losango do Sporting segundo Silas. Quando correr muito ou o movimento não é tudo!
Corpo do artigo
1 - A frase daquele velho treinador que dizia distribuir bem os jogadores em campo, mas que depois eles moviam-se, já se tornou uma caricatura vulgar, mas a verdade é que, vendo alguns jogos, fico a pensar que essa constatação não seria só um lamento. Ou seja, há casos em que o mérito é essencialmente esse: o da movimentação.
Não é, por si só, uma qualidade. A famosa dinâmica necessita de critério e precisão (de execução e de... movimentação). Penso nisso vendo jogar Cervi no Benfica e como tantas vezes passa de titular a não convocado. Haverá uma razão para essa mudança de opção de Bruno Lage e ela não está, ao contrário do que se possa imaginar, em dúvidas sobre o valor (maior ou menor) do jogador.
2 - A explicação está em que, quando vejo Cervi, vejo-o sempre a... correr! O treinador distribui o onze, coloca-o na faixa esquerda e depois ele move-se. O que o faz jogar não é correr tanto, porque na maioria das vezes não dá o ritmo certo às jogadas (falta-lhe pausa) e joga quase em "linha reta", mas a verdade é que está sempre em jogo. E estar sempre significa não só para atacar, mas também para defender, ou, em muitos casos, correr para trás (mover-se muito rapidamente) na transição defensiva, reequilibrando a equipa sem bola. Mais do que atacar e defender muito, Cervi corre muito à frente e atrás. Eis a razão para ele jogar em jogos exigentes: defende (corre mais rápido na transição defensiva para fechar/equilibrar atrás) quando a equipa perde a bola. A atacar, tanto pode ir contra o defesa como passar por ela a voar. Depende do posicionamento do... defesa. Porque correr (mover-se vertiginosamente) isso Cervi faz durante 90 minutos.
Cervi como objeto de estudo e o reaparecer do losango do Sporting segundo Silas. Quando correr muito ou o movimento não é tudo!
3 - O losango leonino ressurgiu em Tondela. Do laboratório de Pontes ao sistema de Silas, várias semanas de diferença. Não mudaram os jogadores (salvo opções no onze), mas existiu mais tempo para trabalhar essa ideia.
Doumbia na posição 6 limita a forma como o losango se move, embora jogue melhor sozinho nesse espaço do que no duplo pivô com Eduardo: mostrava-se muito preso (ou hesitante a tomar boas decisões) na dinâmicas de saída (Eduardo entrou para o seu lugar aos 70" não para distribuir jogo, mas sim para transportar bola). No lado oposto, a dupla Pepelu-João Pedro ou Jaquité controlava as entradas.
Quem se move sempre bem (e assume sempre papel de dono da equipa venha de que posição vier) é Bruno Fernandes, mas colocá-lo no vértice lateral direito do losango condiciona-o de mais, porque lhe impõe obrigações defensivas excessivas para a preponderância primordial que deve ter o mais tempo possível a atacar com bola.
Futebol "vs" cruzamentos
Quando o consegue fazer como pensado, a saída de bola do Famalicão em "2x3" é de "top", com os centrais a assumir a posse e a meter na faixa para "atrair por fora" para depois "sair por dentro", com o passe a entrar em Assunção ou no baixar estratégico de Giga na meia direita. A defender, já não pressiona tão alto (ou tão em cima da linha recuada adversária) e faz, por princípio, um "2x3x1x4" que visa encher melhor o poder de, depois de saltada essa linha, pressionar a meio-campo. Durante meia hora, fez isso em Braga até ficar com menos um jogador e ter de, naturalmente, baixar o bloco, mas nem por isso abdicou dos seus princípios de saída em bloco. O maior paradoxo disto tudo: marcou e sofreu por causa disso. Pensem nesta última frase.
O Braga de Sá Pinto fez, nos últimos dois jogos, Boavista e Famalicão, cerca de 70 cruzamentos. Apontar esta estatística como prova de volume atacante é discutível. Prova, isso sim, bolas metidas na área adversária (diferente de bolas bem metidas num jogador colocado dentro da área adversária). Nos jogos europeus é diferente. Tantos cruzamentos revelam a falta de jogo apoiado, triangulado rente à relva, como a equipa deve (e sabe) fazer. Por princípio, vejo os cruzamentos sempre como um "estilo menor" no jogo.