Cinco substituições e nove no banco é algo que tenho dificuldade em aceitar
Já o disse: é totalmente disfuncional e sem sentido como solução de futuro (subverte a essência do jogo a todos os níveis) mas, se a olhar como só para as circunstâncias especiais atuais, fico na mesma.
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A montanha e o rato
1 - Regressa o campeonato. Ao princípio será estranho mas rapidamente (acredito) irá tornar-se um "sucedâneo emocional ideal" em termos terapêuticos para tantos que ficaram subitamente órfãos da coisa mais importante da vida entre as que são menos importantes.
Ao fim de dois dias, dois jogos, uma jornada, o conflito FC Porto-Benfica (dentro e fora do campo) vai virar de pernas para o ar qualquer vírus.
De início, intensidade baixa. Com o passar do tempo, intensidade a subir. Falo do jogo, claro, e de como os jogadores começarão a caminhar neste território desconhecido sem adeptos (sejam gritos de incentivo ou insultos) e a pressão natural que agora parece invisível. Mas, não se iludam, ela está (estará) lá. Rapidamente. Ao fim de dois dias, dois jogos, uma jornada, o conflito FC Porto-Benfica (dentro e fora do campo) vai virar de pernas para o ar qualquer vírus. Mesmo, claro, o mais primitivo, excessivo e até selvagem que o futebol provoca em todos.
2 - Não interessa muito recordar onde ficamos em termos de jogo jogado, formas das equipas, dinâmica de vitória do FC Porto, crise exibicional do Benfica. Tudo pode voltar de outra forma, como pode voltar igual. Não sei que efeitos esta paragem terá tido na cabeça e no futebol dos jogadores. Sabemos que existe a "montanha de um ponto" a separá-los.
O duelo, mesmo nesta território desconhecido, terá os mesmo interpretes que confrontam estilos e isso torna tudo mais estimulante. Só no futebol conseguimos confrontar assim, nas mesmas posições e objetivos, perfis de jogadores tão diferentes. Não há qualquer impedimento em apostar num jogador possante que arromba defesas (passa por cima deles), músculos velozes, como Marega, ou num baixote e que esquiva o choque, como Rafa, mas também rápido, embora já num estilo-rato (em vez de passar por cima de defesas, fura por entre eles).
3 - A vantagem técnica de Rafa ou a potência física de Marega? É uma boa pergunta mas o jogo coloca outras e, nessas, Marega responde com tudo: a defender. É um monstro de transição defensiva. Depois volta a levar equipa para a frente.
Rafa não tem esse poder atlético e, na frente, criaram-lhe a dúvida posicional tático-existencial. Mantém-se como extremo falso a vir para dentro ou ser o segundo avançado que a formula Lage perdeu e pensou ter descoberto nele mudando-lhe a posição? A minha resposta é mais para o segundo ponto, mas a questão que come todas as soluções, é a opção mudar tão rapidamente de jogo para jogo. Isto é, se faz um bom jogo no meio, solução encontrada. Se faz um jogo pior no meio, afinal não, era melhor não o ter tirado da faixa.
Quem pensar nestas dez jornadas com maior coerência competitiva (coletivo e individualidades) leva a vantagem (antes dos jogos, claro).
As diferentes expressões de velocidade de Marega e Rafa na hora do regresso do campeonato. Recomeçamos exatamente a partir de onde?
As tranças mais "chatas" do leão
Gostei de ler a entrevista de Mama Baldé, falando com a mágoa natural de nunca ter sido aposta na equipa principal do Sporting. Já o mostrei, comentando jogos em direto ou em escritos, como é um jogador que, sem achar um craque, nunca me deixa indiferente. Porque ele vai sempre trazer algo diferente ao jogo.
Um rasgo desconcertante no jogo mais morno ou aparecer até "por dentro", fugindo à lógica da faixa, para rematar (joga muito bem de cabeça, e ninguém tinha reparado nisso a sério). A questão de ser lateral ou extremo nem considero muito relevante porque numa posição ou noutra eu acho que ele faz exatamente as... mesmas coisas (a atacar e a defender, e vice-versa).
Sem conseguir definir bem o seu estilo, disse uma vez que ele era taticamente (e tecnicamente) chato. Põe a cabeça em água a qualquer defesa e o seu estilo meio desengonçado (mas coordenado) com as tranças aos pulos na ginga que mete em cada jogada, devem colocar zonzos os olhares de quem o marca. Vejo-o jogar em Dijon e vejo-o cada vez melhor. E tenho visto muitos jogos. Em suma: claramente jogador para o plantel leonino, até pela força das circunstâncias que se vive. Se será depois para o onze, o nível até onde conseguir chatear os adversários é que o irá ditar.
>> Momentos
João Amaral: renascer
Irrompeu em Setúbal (depois de Pedra Rubras, Candal, Mirandela...) mas ofuscou-se após contratado (sem lógica desportiva) pelo Benfica, andou no Lech Poznan e agora reaparece bem no Paços de Ferreira. Aos 28 anos, merece a aposta e está a mostrar com o seu jogo inteligente, pela ala ou mais por dentro, mas aparecendo sempre no espaço certo, como ainda pode agarrar boas épocas na carreira. Tem técnica, velocidade e boa decisão rápida do que fazer no jogo. Um bom regresso.
Substituições: absurdo
A insistência em manter as cinco substituições e nove jogadores no banco é algo que, honestamente, tenho dificuldade em aceitar. Já o disse: é totalmente disfuncional e sem sentido como solução de futuro (subverte a essência do jogo a todos os níveis) mas, se a olhar como só para as circunstâncias especiais atuais, fico na mesma. Não me conseguem convencer das questões médicas. Vejo é, com isso, as equipas mais fortes com melhores plantéis e mais soluções para lançar no jogo a ter uma enorme vantagem em relação às outras com este novo regulamento. É demasiado evidente!
Perfil: Gonçalo Santos
Este não é um apontamento de descobrir estrelas ou apostas de futuro. É o reconhecer dum jogador que, sem nunca se colocar nos bicos das chuteiras, mostrou-se sempre grande, em campo e fora dele. Gonçalo Santos anunciou, aos 33 anos, que sai do seu Estoril. É, claramente, mais um daqueles casos em que deu mais ao futebol, do que o futebol lhe deu a ele (em ternos de reconhecimento a níveis mais altos). Espero que continue a jogar. Menor intensidade (uns quilitos a mais, ok) mas sempre com o mesmo perfil.