Nomes da lendária equipa do Benfica que foi eneacampeã, de 1966 a 1975, entraram em anúncio com jogadoras atuais. Campeonato, que celebra 65 anos, está mais competitivo do que nunca, a contrastar com aqueles tempos. Mas a concentração de praticantes a Norte não mudou, como recordaram nos bastidores
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A gravação de uma campanha para o principal patrocinador do Nacional feminino, que esta temporada cumpre 65 anos de existência, proporcionou um autêntico encontro entre o passado e o presente no mítico Pavilhão Acácio Rosa, em Lisboa. Representantes de cada equipa do campeonato - Ana Rui Monteiro (FC Porto), Amanda Cavalcanti (Sporting), Mariana Garcez (Benfica), Kátia Silva (Clube K), Catarina Duarte (Castêlo da Maia), Margarida Santos (PV Efanor), Margarida Maia (Sp. Braga), Mariana Pinto (Vitória de Guimarães), Adriana Igreja (Vilacondense), Carolina Costa (Leixões), Beatriz Pinheiro (Fiães) e Letícia Scherer (Avense 78) - juntaram-se em gravações com Maria Madalena Cunha (80 anos), Maria Margarida Leite (76) e Maria Teresa Fernandes (76), que fizeram parte da célebre formação d’“As Marias” do Benfica, campeãs entre 1966 e 1975 apenas com um set perdido nesses nove anos (!).
A experiência resultou numa troca única e gratificante. “Achei muito interessante, bastante fora do que é o nosso normal”, partilhou Amanda Cavalcanti. “Foi muito giro falar com elas, saber alguns conselhos, conviver e perceber como era naquela altura”, atestou Ana Rui.
Sentindo-se esquecidas ao longo do tempo, “As Marias”, de espírito muito jovial, aceitaram este desafio “para as jovens conhecerem um pouco daquela equipa”. “A história é importante. Foi muito bom estarmos aqui, no presente, a recordar o passado. Nós pagávamos para jogar. Éramos cem por cento amadoras. Treinávamos dois dias por semana, excecionalmente três”, recordou a mais velha do trio, que leccionou Educação Física.
Das poucas semelhanças que resistem é “continuar a haver uma prevalência de praticantes no Norte”. “Com as equipas do Norte, a disputa era séria. O Leixões era a equipa mais forte, o nosso real opositor. Muitas vezes, eram os jogos mais aguerridos, mais interessantes que tínhamos numa época”, dizem, indo em 55 convívios desde aqueles anos de domínio absoluto. “Na altura, éramos muitas. Mantemos ainda umas 11, quando nos reunimos todas”, conta Maria Madalena.
Livro “Uma bolada no charco” a caminho
“Há três anos que reunimos todas as terças-feiras. As nossas famílias já sabem que à terça-feira não há netos para ninguém”, atiram as três Marias, a propósito do livro que se preparam para lançar, editado pelo Benfica. Chama-se “As Marias: uma bolada no charco”, contando a história de uma formação ganhadora, que abriu mentes e também se orgulha de ter representado o clube da Luz internacionalmente, na Taça dos Clubes Campeões Europeus. A ideia nasceu depois de saberem que a Câmara Municipal de Lisboa aprovou uma medalha de mérito desportivo à equipa, mas que ainda está por atribuir... “Começámos a gizar uma historinha para termos algo para dizer quando chegasse o momento”, recordam, revelando um motivo forte para quererem que a história d’“As Marias” veja a luz do dia. “Tem dois prefácios, um do diretor do Museu Cosme Damião e outro de José Manuel Constantino [antigo presidente do Comité Olímpico], que, entretanto, faleceu. Ele conhecia-nos bem e escreveu-o já em condições muito precárias. Na última vez que estivemos com ele, disse-nos: ‘Não se atrasem, porque depois é tarde’. Ele fez com muito gosto e devolveu. Isto foi em janeiro [de 2024] e ele morreu em agosto. Parece-nos mal que o livro não saia”, defendem.