Giro: Derek Gee, o herói que perdeu sete vezes

Giro: Derek Gee, o herói que perdeu sete vezes
Carlos Flórido

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Campeão canadiano de contrarrelógio fugiu em sete dias diferentes, fez 1045 km na frente do pelotão e somou... quatro segundos lugares

Derek Gee, natural de Otava, é um canadiano de 25 anos que vai ficar para a história desta Volta a Itália. Mas com o título de herói que perdeu sempre. Em estreia no World Tour, pela Israel-Premier Tech, tem dado tanto que falar que até disfarça a ausência de vitórias da sua equipa, que também não tem corredores entre os 20 primeiros da geral. O melhor é Gee, na 22.ª posição, e os seus êxitos já valeram o destaque suficiente.

A fazer a primeira Grande Volta da sua carreira, o campeão canadiano de contrarrelógio, que pela forma de pedalar não aparenta ter 1,89 metros, começou a destacar-se na oitava etapa, ao fazer 197 dos 207 até Fossombrone em fuga. Foi segundo, muito longe de Ben Healy, que deixara os restantes escapados a 50 km da meta, e essa foi a primeira da saga de... sete fugas.

Seguiu-se o contrarrelógio, mais o dia de descanso, e a seguir Gee tentou outra vez. Foram mais 184 km a puxar até Viareggio, para perder ao sprint com Magnus Cort.

O canadiano deixou passar dois dias e, na etapa reduzida a 74 km, escapou-se logo ao sexto. Não teve andamento para EIner Rubio, Thibaut Pinot e Jefferson Cepeda, três trepadores, no final a subir em Crans Montana, e foi quarto. No dia seguinte voltou a insistir, fez mais 176 km na fuga e... perdeu ao sprint com Nico Denz.

"Começam a ser segundos lugares a mais", desabafou na altura o jovem, longe de se render. Andou na frente mais 154 km até Monte Bondone, mas foi 38.º, muito longe de João Almeida, vencedor nesse dia em que os favoritos apanharam os escapados. Tentou de novo em Palavafera, perdedo mais uma vez para trepadores, e ainda conseguiu insistir até Tre Cime di Lavaredo.

"Se ficasse no pelotão não teria hipóteses. Fiz demasiados segundos lugares, mas ao menos tentei", alegou Derek Gee, depois de na última das etapas de montanha ter dado a sensação de que ia ganhar, ao isolar-se a 7 km do alto. Mas Santiago Buitrago recuperou, ultrapassou-o a 1,4 km da meta e deixou-o em segundo pela quarta vez.

"Meti na cabeça que era para ir até ao final. Mas as minhas pernas acabaram", contou o canadiano, que vai "demorar a assimilar que lutei pela vitória numa etapa destas". "Dói ficar com quatro segundos lugares, mas ganhei mais vontade para ir em frente e procurar a primeira vitória", concluiu.

As proezas de Gee, embora sendo sempre derrotado, não o vão deixar de mãos a abanar. Além dos quatro segundos lugares em etapas, vai ser segundo na montanha e está em segundo por pontos. Se a esses lugares somar o prémio final de combatividade - o contrário seria escandaloso -, os 1045 quilómetros em fuga irão valer-lhe cerca de 50 mil euros. Mas para dividir com os colegas...

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