António Carvalho em entrevista: "Não ando obcecado com vitórias"

Ciclista explica a mudança para a ABTF-Feirense e lamenta não ter mais a companhiade Amaro Antunes.

António Carvalho foi peça preponderante nas vitórias de W52-FC Porto e Glassdrive na Volta a Portugal. Mudou para a ABTF Betão-Feirense para discutir a Volta e vai liderar a equipa sem a companhia de Amaro Antunes, que terminou a carreira. O feirense explicou a O JOGO as suas ambições.

Mudou para o Feirense. De que vai à procura?

-É uma equipa da terra, deram-me condições para discutir a Volta a Portugal, tenho isso em mente há vários anos. Na Glassdrive estava tapado pelo primeiro e segundo da Volta a Portugal [Mauricio Moreira e Frederico Figueiredo]. Não posso estar dependente de outros. Ganhar a Volta a Portugal ainda é um objetivo.

Há uma ligação emocional neste projeto?

-Sou de Santa Maria da Feira, o clube está a crescer. De 2022 para 2023 vai dar um salto muito grande de resultados e nos atletas que terá. É para isso que vamos trabalhar. Não podemos pensar em resultados sem uma estrutura para os alavancar. Estamos a trabalhar, estou a ajudar nessa parte também. Não me lembro da vitória do meu tio [Fernando Carvalho], porque tinha um ano de idade, mas foi especial para ele e para a família. Passou por tantos clubes e, em 1990, ganhou a Volta a Portugal na equipa da terra, conseguindo passar a primeiro no contrarrelógio final.

Seria um cenário perfeito ganhar a Volta e o contrarrelógio final?

-Ganhar graças ao contrarrelógio seria ainda mais simbólico. Gostaria de vencer um "crono" da Volta, porque já fiz três vezes segundo.

Contava ter Amaro Antunes na equipa, agora ficou como único líder. Está preparado?

-Preferia ter outro colega na luta para vencer a Volta a Portugal. Era melhor sermos dois. Agora terei uma responsabilidade maior, estou pronto para a assumir, mas não vou alterar a filosofia para os meus últimos anos: quero desfrutar da bicicleta, não vou começar a pensar na estratégia nem meter pressão. Sinceramente, desfrutei muito da última Volta a Portugal. Nunca fui o líder da Glassdrive e nem parecia o mesmo. Andava sempre a rir. Correu às mil maravilhas. Quero tentar ganhar a Volta tendo essa mesma sensação, de correr para desfrutar.

Negociou com a W52-FC Porto antes de assinar pelo Feirense?

-Sempre fui muito correto e cordial. Tive conversações com a W52, com o senhor Pinto da Costa e Adriano Quintanilha. A equipa não chegou a ir para a frente. E o Feirense, com o presidente Rodrigo Nunes, manifestou o desejo de que eu representasse o clube da terra. Foi um entendimento fácil. Ofereceram-me as condições que eu queria.

No início da Volta de 2022, acreditou que poderiam ter todo o pódio?

-Era bom se transmitissem os primeiros 50 km de cada etapa na Volta. Gosto de atacar e há dias em que pago a fatura. Em Miranda do Corvo, fui agressivo nos primeiros quilómetros. Notei que estava em queda. Acreditei no fim da etapa da Torre, que é o meu calcanhar de Aquiles, que iria fazer terceiro se não me cortassem as pernas. Vinha no grupo de trás, mas ao meu ritmo defendi-me. Acreditei no pódio. Ainda bem que ganhei tempo na Sra. da Graça ao Luís Fernandes [Boavista]. Teria sido difícil porque ele fez um grande contrarrelógio.

A etapa ganha na Sra. da Graça foi um prémio pelo trabalho?

-Falámos na reunião sobre isso. Os meus colegas disseram-me que eu merecia ganhar, pelo trabalho que fiz durante a corrida. Sempre me defendi bem lá. É daquelas que, mesmo num mau dia, sei que a consigo disputar. Geri o esforço. Muito ajudou saber trabalhar para outros colegas.