O esloveno Primoz Roglic (Lotto NL-Jumbo) teve, este domingo, a prova definitiva de que a opção de trocar os saltos de esqui pelo ciclismo foi a mais acertada, ao impor-se com firmeza e frieza na 43.ª Volta ao Algarve.
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Roglic fala pouco. O seu inglês não é perfeito e ele defende-se cortando no discurso. Nos três dias que vestiu de amarelo, nunca se alargou nas palavras, nem nos gestos, nem mesmo antes de subir ao pódio para festejar aquela que, até ao momento, é a vitória mais sonante em corridas por etapas da sua curtíssima carreira.
Até há cinco anos, o esloveno só via corridas de bicicletas na televisão. Hoje, depois de escrever uma nova linha no seu currículo -- as principais são ocupadas pelo triunfo no contrarrelógio do Giro2016 e pela conquista da Volta à Eslovénia e ao Azerbaijão de 2015 -, o campeão nacional de contrarrelógio demonstrou que é muito mais do que um especialista na luta contra o cronómetro.
Nascido a 29 de outubro de 1989 na pequena cidade de Kisovec, uma comunidade escondida nas montanhas da Eslovénia, Roglic adotou como seu o desporto local. Tinha 13 anos quando se aventurou nos saltos de esqui e, apenas três anos depois, já fazia parte da equipa nacional júnior que conquistou medalhas de bronze nos Mundiais de 2006 e que se sagrou campeã mundial, no ano seguinte, em 'casa'.
Pouco depois de se tornar campeão mundial, Roglic aventurou-se num concurso de 'voo' de esqui. O resultado foi desastroso: o miúdo de 17 anos falhou um salto, 'enrolou-se' no ar e aterrou de cabeça na pista gelada, ficando inconsciente. Os piores prognósticos não se confirmaram: o atual campeão nacional de contrarrelógio não tinha fraturas, apenas múltiplos hematomas.
Apesar de a queda não ter representado o fim da carreira do esloveno nos saltos de esqui, alterou-lhe o rumo: voltou às pistas, mas o sucesso foi moderado. Aos 21 anos, decidiu abandonar definitivamente a competição, por considerar que não tinha qualidade suficiente para estar à altura dos melhores.
Mas o desporto continuava a correr-lhe no sangue e nada melhor do que comprar uma bicicleta de corrida para testar várias possibilidades: ciclismo, duatlo e triatlo. Os bons resultados acumulados numa equipa amadora em 2012 captaram a atenção da modesta Adria Mobil.
Na sua primeira época como profissional, Roglic teve uma performance modesta, mas em 2014 a explosão aconteceu: venceu uma etapa na Volta ao Azerbaijão e uma pequena clássica. No ano seguinte, foi segundo na Volta à Croácia, venceu a Volta ao Azerbaijão e a Volta à Eslovénia.
Os resultados na Adria Mobil bastaram para que a Lotto NL-Jumbo lhe oferecesse um contrato para 2016. O resto da história é sobejamente conhecido: um quinto lugar na passada edição da 'Algarvia', um prólogo e uma camisola rosa perdidos por centésimos no Giro e a redenção no contrarrelógio da nona etapa, um título de campeão nacional da especialidade em junho, um décimo lugar nos Jogos Olímpicos Rio2016 e um sétimo nos Campeonatos da Europa, também em 'cronos'.
"Quero demonstrar que sou mais do que um contrarrelogista", repetiu incessantemente durante a Volta ao Algarve. Hoje, com o calculismo e a capacidade física demonstradas no Malhão, Roglic comprovou que pode ser muito mais.