Numa cidade em que a modalidade tem grande implantação, o Vitória de Guimarães fez um protocolo com o vizinho Fermentões, reativando esta temporada a secção que tinha fechado portas em 1996
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O andebol foi a modalidade que mais anos existiu no Vitória de Guimarães a seguir ao futebol, tendo obtido grande sucesso nos anos 70, mas parando em 1996. Esta temporada, a modalidade foi reativada no Vitória, graças a um protocolo com o vizinho Fermentões, que competiu pela última vez no Andebol 1 em 2018/19, desistindo do escalão maior na época seguinte. A junção de forças possibilitou recuperar uma secção onde o antigo internacional Carlos Carneiro deu os primeiros passos e Manuel Machado foi jogador e treinador, antes de passar em definitivo para o futebol.
O regresso do andebol não estava nos planos imediatos da atual direção, mas muitos pedidos durante a última campanha eleitoral fizeram acelerar o projeto, que já abarca mais de uma centena de atletas
Como "quase todo o vimaranense gosta de andebol, chegando a haver seis clubes na cidade a praticar", diz Pedro Guerreiro, vice-presidente dos vitorianos para as modalidades, o eventual regresso foi tema frequente durante a campanha eleitoral das eleições do ano passado. "Foi um processo mais rápido do que estávamos à espera. Nunca prometemos que íamos ter andebol, mas essa era a pergunta frequente nas sessões de esclarecimento", relata a O JOGO.
Ainda existiu uma tentativa de aproximação com o Xico Andebol, que tem o pavilhão encostado ao estádio, mas apenas se concretizou a ligação com o vizinho Fermentões, que "continua com a sua formação, enquanto o Vitória tem a equipa sénior", explica o diretor de secção José Maria Ferreira, adiantando que o projeto abrange entre 110 e 120 atletas e 10 treinadores.
"Se íamos ter andebol era a pergunta frequente nas sessões de esclarecimento antes das eleições" >> Pedro Guerreiro - Vice-presidente do V. Guimarães para as modalidades
Guerreiro defende que "um projeto sólido deve começar debaixo para cima", e por isso os seniores militam na III Divisão, com objetivo de subida, embora esta época a concorrência seja invulgarmente forte. Muitos clubes de topo criaram equipas B para terem os seus sub-21 em ação e os vitorianos têm Xico, Águas Santas, ABC e Póvoa como rivais. Tendo jogadores que eram de Fermentões, Xico, ABC, AC Fafe ou Águas Santas, a maioria com idades entre os 19 e os 25 anos, o conjunto às ordens de Luís Pereira e António Martins fez apenas três jogos no campeonato (duas vitórias e uma derrota), retomando a competição a 9 de janeiro, depois de o calendário ter sido reformulado.
"Guimarães sempre foi terra de andebol, por isso merece uma equipa que esteja na I Divisão e que se mantenha por muitos anos"
Já a formação, que vive um ano atípico, "está ativa, havendo treinos com as respetivas regras", segundo o vice do Vitória. No entanto, José Maria Ferreira constata que se sente "algum receio", além de dificuldades monetárias. "A formação vive da quotização dos próprios atletas. Eles não estando, também não vamos exigir dinheiro. Tirando as deslocações, que não existem, os gastos são os mesmos, na manutenção dos pavilhões e custo com os treinadores. Está a ser complicado", afirma. No entanto, para o responsável, que transita do Fermentões e tem 40 anos de experiência, o passo dado esta época "fez todo o sentido". "Guimarães sempre foi terra de andebol, por isso merece uma equipa que esteja na I Divisão, que se mantenha por muitos anos e não seja só de passagem. Para os miúdos da formação, ter como objetivo chegar à equipa sénior será completamente diferente. Não vai acontecer o que acontecia: formar jogadores e depois os clubes das redondezas chegarem aqui e levá-los. Os melhores saem porque não há uma equipa representativa que lhes dê a opção de jogar na I Divisão", remata.
"Guardo a modalidade com carinho, ainda que já não acompanhe muito"
"Eu jogava mais como central, mas também podia fazer de extremo. Penso que agora se diz ponta", conta o técnico Manuel Machado, animado ao revisitar os largos anos em que esteve ligado ao andebol, agora que o Vitória de Guimarães, onde jogou e treinou, voltou à modalidade.
De resto, e podendo ser surpresa para muitos, o futebol onde se notabilizou, orientando equipas da I Liga entre 2002 e 2017 e alcançando várias qualificações europeias, surgiu tardiamente. "Fui praticante do Vitória e do Francisco da Holanda e treinador de ambos também. O futebol só apareceu no meu caminho aos 24/25 anos, no princípio da década de 80. Na altura treinava o Francisco da Holanda e estava a correr bastante bem. O clube tinha descido à II Divisão, fizemos uma boa campanha e promovemos o Xico de novo. Tudo aconteceu por função da ligação que existia entre o Henrique Torrinha, que era secretário-técnico do Vitória e presidente da Associação de Andebol de Braga. Ele era meu amigo e também do então presidente António Pimenta Machado, que iniciava o seu primeiro mandato. O trabalho com algum sucesso no andebol e a minha formação académica levaram a que surgisse um convite para integrar o departamento de futebol jovem", lembra, confirmando que transportou conhecimentos do andebol para os relvados, até porque trabalhou com referências como Fernando Jorge Oliveira (FC Porto).
"Nos desportos coletivos existe muita coisa que é específica, mas há muito em comum: o trabalho de grupo, a liderança... Tinha muita vivência do andebol, como jogador e treinador, e pude aproveitar essa minha aprendizagem. Serviu de alicerce para o meu desempenho como técnico no futebol", defende o agora técnico do Berço Sport Clube (Campeonato de Portugal), guardando a modalidade "com carinho, ainda que não acompanhe muito" e saudando o regresso do Vitória.