Vasco da Gama na Liga Betclic: "É um sonho que, por acaso, se tornou realidade"
Histórico portuense, que apenas apontava à manutenção, conquistou a Proliga, pretendendo fazer valer o direito desportivo e candidatar-se a estar na Liga Betclic em 2025/26.
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O passado domingo promete prevalecer na memória dos adeptos do Vasco da Gama por muito tempo. O histórico emblema de 105 anos, feitos a 20 de fevereiro, localizado no centro do Porto e com um palmarés muito respeitável (quatro campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, três títulos em cadetes masculinos e dez em juniores masculinos), sagrou-se campeão da Proliga e celebrou a subida à Liga Betclic, num regresso ao topo volvidas três décadas da passagem pela I Divisão (Série A2). Nas palavras do treinador Nuno Freitas a O JOGO, a festa no Parque das Camélias foi “muito emocionante pelo ambiente criado”, aliada a uma sensação de “alívio”. “Poderíamos ter resolvido um pouco mais cedo”, acrescentou o técnico dos vascaínos, que só garantiram o título na negra, com um triunfo por 100-79 sobre o CB Queluz, outra das surpresas do segundo escalão.
Presidente desde 2018, com ligações ao clube desde os tempos do avô, Manuel Rodrigues fala de “uma conquista sem contar e um sonho que, por acaso, se tornou realidade”, já que, no arranque da temporada, o objetivo traçado era apenas a manutenção.
Excedidas as expectativas, o Vasco da Gama, conhecido por ser uma fábrica de talentos, tendo como mote “fazer muito com pouco”, está a postos para preparar 2025/26 no escalão máximo. “Vamos fazer valer o direito desportivo e apresentar candidatura à Liga. Vamos ter muito trabalho, a nível de apoios é tudo muito difícil, mas queremos dignificar o clube como até aqui”, estabelece o dirigente, elegendo como primeiro desafio encontrar um recinto para acolher os jogos em casa.
Embora tenha ganho piso, marcador eletrónico e tabelas novas nos anos mais recentes, além de melhoramentos nas bancadas, o Parque das Camélias ainda não cumpre todos os requisitos para estar na Liga, sobretudo pela localização dos balneários, que ficam fora pavilhão. “Para já, não tem condições para jogar. Iremos ter reuniões com entidades da cidade a ver até que ponto nos podem ajudar, como fizeram até aqui. Se não der resultado, é uma tristeza, mas teremos de andar por fora da nossa cidade como já andámos, a jogar no Rosa Mota, no Colégio de Gaia ou no pavilhão no FC Gaia”, recorda Rodrigues, nomeando Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Gondomar como possibilidades. “Com alguma obra feita, poderíamos jogar aqui em dezembro ou janeiro [de 2026], depende do que a autarquia nos disser”, completa o presidente.
Segredo escondido num ADN
A possibilidade de conquistar a Proliga começou a ganhar forma quando o Vasco da Gama concluiu a primeira fase na liderança da Zona Norte. “Ao olhar para a Zona Sul, sentimos que o título poderia ser uma realidade e aceitámos o desafio”, conta Nuno Freitas, identificando como foi possível contrariar adversários com orçamentos superiores. “Os estrangeiros foram muito bem escolhidos e os portugueses todos formados aqui, uns muito jovens, outros nem tanto e que até já jogaram fora, mas têm décadas de clube. Quando as coisas ‘apertam’, conseguimos obter mais rendimento por parte desses atletas da casa. Os mais velhos ajudaram os mais novos e formámos uma equipa do princípio ao fim”, defende o treinador de 49 anos, que também é coordenador técnico.
Há seis épocas nos vascaínos, mas assumindo a equipa principal só nesta última, Freitas vai manter-se no cargo, que concilia com a profissão de consultor na área dos sistemas de gestão de empresas. “O facto de fazerem as pessoas sentirem-se tão bem e de se preocuparem de forma genuína torna o clube especial. Estamos ali uns para os outros. É uma família. Quando vou para o Parque das Camélias ao final do dia, sinto-me lá bem”, partilha.
Tradição em formar para manter
Fora os títulos, o Vasco da Gama tem uma considerável lista de jogadores internacionais que formou, com Fernando Sá, Pedro Miguel, Raúl Santos e Rui Mota à cabeça. Gustavo Teixeira (Ovarense), Litos Cardoso (Oliveirense) e Hugo Ferreira (FC Porto) são os exemplos mais recentes do trabalho desenvolvido nas camadas jovens, podendo seguir-se novos casos. “É uma tradição que se vai continuar a cumprir”, vaticina Nuno Freitas, realçando também a subida da equipa B, feita de atletas sub-23, da CN2 (quarto escalão) à CN1 (terceiro).
Em 2024/25, o Vasco da Gama contabilizou à volta de 130 inscritos, com representação em todos os escalões, do baby basket aos seniores, à exceção de duas categorias no feminino. Mas, em 2025/26, as sub-16 vão ter equipa, só ficando a faltar as sub-18.
Um trio valioso foi crucial
O canadiano Akoi Yuot (segundo mais valioso da Proliga), o americano Victor Nwagbaraocha (terceiro melhor marcador) e o veterano Felizardo Ambrósio (foto) foram os destaques individuais da campanha dos históricos do Porto. No caso do angolano de 37 anos, sete vezes campeão africano (quatro pela seleção, três por clubes) e presença em Mundiais e em Jogos Olímpicos, a chegada às Camélias deveu-se à família. “A esposa mudou-se para cá com os filhos, que começaram a jogar no Vasco. Ele continuou em Angola, mas também quis vir e apresentou-se no clube”, relata Freitas.