Tour: Van der Poel tentou concretizar sonho de Rickaert, mas foi Merlier a ganhar
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Mathieu van der Poel fugiu este domingo para concretizar o sonho do colega Jonas Rickaert e quase ganhou a nona etapa da Volta a França em bicicleta, que confirmou que Tim Merlier é atualmente o melhor sprinter do pelotão.
Numa jornada em que o português João Almeida (UAE Emirates) cedeu finalmente ao seu corpo e abandonou a "Grande Boucle", o campeão europeu de fundo voltou a derrotar Jonathan Milan (Lidl-Trek), consagrando-se como principal velocista do pelotão no final dos 174,1 quilómetros entre Chinon e Châteauroux.
Tal como na terceira etapa, o ciclista da Soudal Quick-Step impôs-se ao jovem italiano, com o belga Arnaud de Lie (Lotto) a ser terceiro, com as mesmas 03:28.52 horas do vencedor, simplesmente “contente” por ter bisado neste Tour – qualquer que seja a ocasião, o belga expressa pouca emoção.
Talvez por isso, a história do dia foi protagonizada pelo estelar Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck) e pelo seu companheiro belga Jonas Rickaert: os dois fugiram assim que foi dada a partida real para os 174,1 quilómetros entre Chinon e Châteauroux e quase chegavam com sucesso ao final, com o neerlandês a ser apanhado a 800 metros da meta.
“O sonho dele [Rickaert] era estar no pódio da Volta a França e eu fiquei feliz por poder ajudá-lo a tentar ganhar a combatividade”, confessou "MVDP" no final, depois de ter cumprido com sucesso a sua missão.
O ato de generosidade do neerlandês, que virtualmente chegou a envergar a camisola amarela que foi sua durante quatro jornadas, não teve, contudo, efeitos nas contas da geral, ainda liderada pelo esloveno Tadej Pogacar (UAE Emirates), com os mesmos 54 segundos de vantagem para o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) e 01.11 minutos para o francês Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels), que fecha o pódio.
“Na realidade, brinquei que devíamos atacar os dois desde o início da etapa, mas parece que ele [Van der Poel] levou a sério. Ele continuou e eu estava a morrer devagar”, resumiu Rickaert.
Eterno trabalhador de equipa, o belga de 31 anos subiu, finalmente, ao pódio da maior corrida do mundo, no caso como mais combativo da nona etapa.
“O meu Tour está feito, posso ir para casa amanhã”, brincou.
Perante a indiferença do pelotão, os dois homens da Alpecin-Deceuninck rapidamente ganharam mais de três minutos de vantagem, numa movimentação que parecia ter como propósito a conquista de pontos no sprint intermédio.
Mas, ultrapassado esse ponto onde Van der Poel pontuou para a camisola verde, que continua a assegurar não ser um objetivo, o duo não abrandou, nem o pelotão aumentou o ritmo da perseguição, com a fuga a continuar a ganhar tempo e a superar os cinco minutos, ainda antes de João Almeida descolar a 120 quilómetros da meta.
O melhor voltista português da atualidade ainda regressou ao pelotão, mas, em sofrimento, depois de ter fraturado uma costela numa queda na sétima etapa, acabaria por abandonar ao quilómetro 89, somando a terceira desistência em grandes Voltas e deixando Pogacar sem o seu principal escudeiro para a montanha.
Já sem o ciclista de A-dos-Francos, o pelotão ‘despertou’ da sua inércia, com a Lidl-Trek a receber a ajuda das restantes equipas dos sprinters, mas a ter muitas dificuldades para alcançar os fugitivos.
O grupo subvalorizou a qualidade dos ciclistas da Alpecin-Deceuninck e pagou cara a arrogância, sofrendo na tentativa de apanhar Van der Poel, que ficou sozinho à entrada dos seis quilómetros finais e só foi alcançado já dentro dos derradeiros 800 metros.
Num sprint confuso, sem lançadores, Merlier voltou a impor-se a Milan na chegada a Châteauroux, hoje rebatizada ‘Cidade Cavendish’, em homenagem a Mark, o recordista de triunfos em etapas do Tour (35), que venceu as três anteriores chegadas àquele local, mais concretamente nas edições de 2008, 2011 e 2021, com esta última a impulsionar o relançamento da sua carreira.
Todos os homens da geral chegaram no pelotão, enquanto Nelson Oliveira (Movistar) foi 100.º, a 01.12 minutos.
O experiente "Nelsinho", agora único português em prova, é 59.º da geral, a mais de meia hora de Pogacar, na véspera da derradeira etapa antes do primeiro dia de descanso da 112.ª edição.
Na segunda-feira, em dia de feriado nacional em França, o pelotão cumpre 165,3 quilómetros entre Ennezat e Mont-Dore, que incluem sete contagens de montanha de segunda categoria, a última das quais a coincidir com a meta.