Van Aert: "Esta vitória significa muito para mim, quase não consigo explicar"
Wout Van Aert derrotou os demónios no sterrato que fez cair Roglic
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Wout van Aert apagou este domingo as desilusões, ao ganhar a acidentada nona etapa da Volta a Itália, em que Primoz Roglic voltou a sofrer os seus habituais azares e o jovem ciclista mexicano Isaac del Toro vestiu a rosa.
Após um início de temporada, no mínimo, dececionante, o colosso belga da Visma-Lease a Bike recorreu a toda a sua classe para ganhar em Siena, no final dos 181 quilómetros desde Gubbio, valendo-se do maior conhecimento dos metros finais, cumpridos no percurso da Strade Bianche – prova que ganhou em 2020 – para derrotar Del Toro na meta.
“Esta vitória significa muito para mim, quase não consigo explicar. Tinha de ser aqui, porque foi neste lugar que a minha carreira de estrada começou, em 2018, e ganhar esta etapa depois de um longo período sem vitórias… conseguir, finalmente, vencer sabe muito bem”, confessou WVA.
A atravessar uma profunda crise de confiança, fruto de uma época falhada – não esteve no pódio de qualquer Monumento e falhou o assalto à maglia rosa inicial deste Giro -, Van Aert derrotou este domingo os seus demónios, somando a primeira vitória da época, a 50.ª da carreira e completando a trilogia em grandes Voltas.
Sem vencer desde agosto, mais concretamente da Vuelta'2024, onde alcançou três vitórias, às que junta outras nove no Tour, o ciclista da Visma-Lease a Bike soube aguardar pelo momento certo para atacar o jovem mexicano da UAE Emirates, segundo com as mesmas 04:15:08 horas e novo líder da geral.
Na etapa mais emocionante da 108.ª edição, os dois isolaram-se já dentro dos derradeiros 20 quilómetros e chegaram sozinhos à meta, que o italiano Giulio Ciccone (Lidl-Trek) cortou 58 segundos depois, na terceira posição, pouco antes dos restantes candidatos à geral, à exceção de Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe), que caiu, furou e foi apenas 19.º, a 02.22 minutos.
O esloveno não ficou excluído da luta pela geral, mas está bem longe do novo maglia rosa, que tem 01.13 minutos de vantagem sobre o seu companheiro espanhol e teórico líder Juan Ayuso e 01.30 sobre o italiano Antonio Tiberi (Bahrain Victorious), que é terceiro.
Na jornada mais decisiva até ao momento, os fugitivos do dia foram absorvidos pela poeira e pelo pelotão, quando os setores de sterrato começaram.
Havia 30 quilómetros de estradas de terra para percorrer, mas o então camisola rosa Diego Ulissi, o primeiro ciclista da Astana a liderar a geral desde Vincenzo Nibali em 2016, nem ao primeiro setor sobreviveu, descolando do pelotão a 66 quilómetros da meta.
Com Mads Pedersen (Lidl-Trek) a impor um ritmo de loucos na frente do pelotão, para elevar na geral Ciccone, Roglic e Ayuso chegaram a ficar em dificuldades, saindo ‘ilesos’ num primeiro momento.
No segundo setor de sterrato, Michael Storer (Tudor), oitavo à partida, caiu, antecedendo novo momento dramático: a queda que derrubou o eternamente azarado ‘Rogla’, que já não tinha companheiros da Red Bull-BORA-hansgrohe para o apoiar.
A INEOS, rompendo o código de cavalheiros do ciclismo, aproveitou para atacar, sendo auxiliada pela UAE Emirates, que ignorou o facto de Ayuso estar atrasado – ficou demonstrado que, quando Tadej Pogacar não está, os egos prevalecem sobre o interesse coletivo.
Favorito número um, Roglic voltou a demonstrar que é um dos corredores com mais azar do pelotão, furando a uns 45 quilómetros da meta, mas nunca desistiu, minimizando os dados – é 10.º, a 02.25 minutos do líder da geral, mas tem a quase totalidade de candidatos ao triunfo final à sua frente.
A INEOS acabou por pagar a sua falta de desportivismo, com Thymen Arensman a perder o contacto com o grupo da frente após um problema mecânico. Nenhum dos companheiros esperou pelo neerlandês, que ‘entregou’ definitivamente a liderança da equipa ao ‘renascido’ Egan Bernal, agora sétimo da geral.
A 20 quilómetros da meta, atacou uma primeira vez Del Toro, conseguindo apenas eliminar Brandon Rivera. A estratégia da INEOS revelou-se totalmente errada, um clássico na equipa britânica nos últimos anos, já que também o campeão colombiano Bernal descolou pouco depois.
Com o mexicano da UAE Emirates quase sempre a puxar na frente e a sua equipa a trabalhar na perseguição, de modo a que Ayuso ganhasse tempo a Rogla, acabou por ganhar o mais experiente, com Van Aert a festejar o triunfo com a sua omnipresente família.
Privado do triunfo na etapa, Del Toro foi ‘presenteado’ com a camisola rosa, com o vencedor da Volta a França do Futuro de 2023 a assumir-se hoje como um sério candidato à geral, na qual, apesar das suas duvidosas táticas, a UAE Emirates tem quatro ciclistas no top 10.
O português Afonso Eulálio (Bahrain Victorious) aguentou-se bem na estreia no sterrato, liderando durante alguns quilómetros o pelotão no trabalho para Tiberi, sendo 85.º no final e fixando-se no 92.º posto da geral, a 55.49 do camisola rosa antes do segundo dia de descanso do Giro.
O pelotão regressa à estrada na terça-feira, para o segundo contrarrelógio da 108.ª edição, percorrido ao longo de 28,6 quilómetros entre Lucca e Pisa.