Hugo Silva, selecionador nacional de voleibol feminino, conversou com O JOGO no dia seguinte a um apuramento histórico para o Campeonato da Europa, apenas o segundo de sempre
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A Seleção Nacional de voleibol feminino foi à fase final da Silver League em 2022, tendo levado a medalha de prata após derrota com a Suécia; em 2023 foi à final a quatro, com bronze e, em 2024, a vitória e a respetiva subida à Golden League. “À terceira foi de vez”, disse Hugo Silva, selecionador de 51 anos, natural do Porto. Anteontem, foi garantida a presença na fase final do Campeonato da Europa.
Foram dois meses e meio de estágio com um intervalo de dez dias para preparar o apuramento para o Europeu, mas as irmãs Garcêz e a Ana Rui não pararam, porque estiveram com as Sub-22.
Como é que acordou hoje [ontem, segunda-feira]?
— Acordei a pensar que estava no ritmo de Seleção. Foi muito tempo seguido e abandonar o ritmo de treinos bi-diários é diferente do dia e dia, mas também acordei orgulhoso e feliz do que foi feito.
Desta vez acordou em casa...
— E é sempre a nossa casa, não é? Não sou de tomar pequeno-almoço, faço o meu jejum intermitente, mas estranhei a minha própria cama, acordei com uma pequena dor no pescoço, não sei se foi da almofada.
A que horas costumava acordar no estágio e que horas acordou ontem?
— Por norma era entre as 06h00 e as 06h30 e começávamos assim que chegávamos à sala do pequeno-almoço a ultimar o que havia sido preparado de véspera. No último dia da semana acordava-se mais cedo. As atletas têm uma folguinha, mas fazem um treino mais cedo, começa às 06h30/07h00 e depois têm o dia livre. E hoje acordei ao ritmo habitual, às 06h00 já estava desperto, ainda longe do que será o dia a dia do não treino. Mas fiquei um pouco na cama, a responder a algumas mensagens e e-mails.
O que lhe faz mais falta do dia a dia sem treino?
— As minhas corridas e caminhadas. Fazem-me mesmo muita falta.
Um pouco mais a frio, o que lhe ocorreu ao perceber que a Seleção estava apurada para o Campeonato da Europa?
— Que valeu a pena não ter ouvido o que maioria das pessoas me disseram quando fui para o feminino, diziam que ia perder tempo e não iria conseguir nada, especialmente quando equiparado ao que se fez no masculino. Muita gente me disse para me manter e nem pensar em apostar no desafio que o professor Vicente Araújo me lançou em 2022. Foi isso o que mais me veio à cabeça e nem tanto pelas conquistas e resultados, mas pela grande surpresa que foi trabalhar no feminino.
Qual a razão da surpresa?
— Pela ambição que sempre demonstraram desde o primeiro treino, pela sede de querer evoluir, aprender. Desde o início houve uma sintonia grande com a mensagem e o desafio que lhes foi lançado pela equipa técnica, as atletas receberam muito bem.
Estes resultados não se conseguem só com ambição e sede de vencer...
— Esta talvez esta seja a Seleção mais talentosa, a melhor de sempre do voleibol feminino português. Temos gente com talento, e isso é muito importante, mas também um campeonato mais competitivo, o nível das equipas é cada vez mais próximo, vimos a surpresa que foi alguns candidatos que ficaram longe dos objetivos e o Braga que foi à final. O nível pode não ser o melhor, na qualidade do jogo, mas é competitivo, é surpreendente em termos de resultados.
Qual é a principal diferença entre trabalhar com homens e mulheres?
— Eu defino o feminino na palavra “sentimento”, toda a sensibilidade e a emoção que envolve o dia a dia delas, a relação entre as atletas é muito próxima. Os homens cobram-se mais uns dos outros, elas já têm dificuldade em fazê-lo, por não querer magoar. Se um dia elas separarem isto do desafio que tem de existir, podem dar ainda mais um satinho para esta mudança que tanta falta faz ao feminino.
Trabalhou com um grupo muito jovem...
— Temos atletas dos 19 aos 27 anos, desde uma Mariana, Joana [irmãs Garcêz] ou Ana Rui, até à Ana Figueiras ou a Margarida Maia.