
.
REUTERS/Andrew Boyers
Vítima de um dos piores acidentes dos últimos anos, numa corrida de Fórmula 4 realizada no domingo de Páscoa de 2017, Billy Monger recuperou em tempo recorde e está mais perto do sonho.
Billy Monger, jovem inglês de 18 anos que perdeu as duas pernas num acidente de Fórmula 4 em Donington, a 16 de abril do ano passado, foi autorizado pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) a correr de novo neste fim de semana, curiosamente num domingo de Páscoa, tal como o que ficou marcado por um dos mais assustadores acidentes dos últimos anos. Billy "Whizz", como é afetuosamente tratado, regressa após uma recuperação em tempo recorde e em condições bastante diferentes: as lesões graves mudaram-lhe a vida, mas também se transformou numa celebridade, tendo sido candidato ao prémio Laureus com o "momento do ano".
O horror do acidente gerou, há um ano, uma campanha pouco comum. Organizando um "crowdfunding" para ajudar a pagar os seus tratamentos, a sua família e equipa pediram 600 mil libras e receberam 842 mil (963 000 ). Pilotos como Lewis Hamilton e Jenson Button, os ídolos do jovem que na altura tinha 17 anos, foram dos maiores promotores (e contribuintes) da campanha e Monger esteve no Grande Prémio de Inglaterra de Fórmula 1 como convidado do piloto da Mercedes. O regresso vai dar-se num escalão superior, a Fórmula 3 britânica, e numa equipa de topo, a Carlin, que já teve os portugueses Tiago Monteiro, Álvaro Parente e António Félix da Costa, mas também Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Carlos Sainz.
"O apoio que recebi foi um grande impulso. Sinto alguma pressão devido a isso, mas é uma boa pressão, as pessoas querem ver-me pilotar", disse Monger ao "Sun", lembrando que "terei de fazer como todos os pilotos, conseguir dinheiro de patrocinadores, e não peço facilidades; quero ser tratado como um igual".
Tendo palavras tocantes ao recordar o acidente - "fiquei acordado durante 45 minutos, no carro, só percebendo que as lesões eram graves quando a adrenalina baixou; fui colocado três dias em coma e depois tudo mudou: ninguém espera acordar sem pernas!" -, Monger já teve uma experiência em pista com um VW Beetle e o regresso como amputado não é inédito.
Clay Regazzoni, suíço que foi piloto da Ferrari, bateu a 280 km/h no GP dos Estados Unidos de 1980 e ficou paralisado dos membros inferiores, tendo depois corrido o Paris-Dakar e as 12 Horas de Sebring, utilizando comandos no volante, para morrer a 15 de dezembro de 2006, vítima de acidente de viação numa autoestrada. Ainda mais célebre foi o caso de Alex Zanardi, italiano de 51 anos que perdeu as pernas em 2001, no CART. Fez depois cinco épocas no WTCC e uma nas Blancpain Series. Já tem quatro títulos olímpicos e oito Mundiais em paraciclismo, pedalando com as mãos.
Novidade é o que Monger pretende. "O meu sonho é correr na Fórmula 1. Não acho que isso deva mudar só porque eu mudei. O acidente endureceu-me e estimulou-me", diz. Acelerando com um manípulo no volante e travando com um pedal ligado à prótese, sabe que nunca um amputado foi tão longe. Mas a infelicidade também abriu portas e até já está convidado para correr as 24 Horas de le Mans de 2020, numa equipa de deficientes motores promovida por Frédéric Sausset.
962 670 euros angariados através do "crowdfunding"
O "crowdfunding" - peditório pela internet - criado pela família e equipa de Billy Monger, para ajudar a pagar os tratamentos, superou todas as espectativas. Num só dia atingiram as 600 mil libras pedidas e o total foi de 841 844 libras (962 670 euros), doadas por 18 914 pessoas.
Entre as muitas celebridades qie contribuíram destacaram-se as 15 mil libras (17 mil euros) de Jenson Button, enquanto Lewis Hamilton não divulgou a quantia. Mas houve um anónimo a doar 30 mil euros...
