Ucraniana desqualificada: "Foi uma grande provocação. Querem obrigar-nos a desistir"
Olga Kharlan foi desqualificada nos mundiais de esgrima por não cumprimentar a russa Anna Smirnova
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Como se sentiu ao saber que poderia defrontar uma atleta russa? "Sabia que ia ser um dia muito difícil para mim. No dia anterior, quando soube que podia competir, comecei a ficar muito nervosa. Antes, estava apenas a pensar se me seria permitido fazê-lo, e agora era uma questão de saber se seria capaz de enfrentar um atleta russo... bem, um atleta 'neutro'. Apercebi-me de que ia acontecer, comecei a pensar nas minhas emoções, a preparar-me para tudo isto. E consegui fazer o trabalho, ganhei o jogo muito bem (15-7). Quando saí da pista, ajoelhei-me e comecei a chorar, a chorar muito. É muito difícil para nós, ucranianos, vê-los [os russos], mas sabemos que temos de lutar e foi isso que eu fiz."
Esperava ser desqualificada? "Não esperava receber um cartão preto [sinónimo de desqualificação], porque tinha tido uma conversa com o presidente da Federação Internacional de Esgrima [o grego Emmanuel Katsiadakis] no dia anterior. Mas aparentemente ele vai dizer que a culpa não é dele, que são apenas as regras que estavam a ser aplicadas... Mas essa conversa teve lugar. Não vou dizer que me fez promessas, mas sabia que ia haver uma provocação, porque estender a mão para a apertar é uma provocação. Uma grande provocação. Ele sabia que isso podia acontecer. Podíamos ter feito a saudação apenas com as espadas e seguir em frente, mas ela não quis. No espaço de uma hora, quando eu ia a caminho do meu próximo combate, eles tomaram a sua decisão, que é horrível."
Ficou surpreendida quando Anna Smirnova lhe ofereceu a mão no final do jogo? "Não fiquei surpreendida, porque sei que lhes foi dito para fazerem isso. O presidente da federação deles quer provocar e destruir tudo, porque perdeu tudo o resto para se qualificar para os Jogos Olímpicos. Ele quer matar-nos, é esse o seu objetivo. Eu sabia que ia acontecer, mas não estava à espera que eles me desqualificassem. Esperava que eles mantivessem a sua palavra."
Como se sentiu quando foi desqualificada? "Nem queria acreditar! O árbitro que me deu o cartão chorou quando o fez! A culpa não é dele... Conheço-o bem, é um bom amigo italiano. É até cruel para ele, porque foi por isso que o utilizaram. E eu compreendo que esta Federação... Bem, espero ainda estar viva quando ela mudar. Mas, para já... Espero que o mundo da esgrima perceba o que se está a passar. Não apenas dizendo 'oh sim, isso não está certo', mas dizendo que algo realmente precisa ser feito. Porque hoje fui eu, mas amanhã pode acontecer-vos a vocês também."
Após a sua desqualificação, o Comité Olímpico Internacional (COI) emitiu um comunicado de Imprensa apelando ao mundo do desporto para mostrar maior sensibilidade para com os atletas ucranianos... "Espero que desta vez o COI diga alguma coisa à FIE. Hoje, fiz a escolha certa. Já tenho medalhas, sou medalhada olímpico, sou campeã olímpica, mas há algo mais forte: o meu país, a minha família, e eu não podia fazer isso. Espero que todas essas pessoas nunca tenham de sentir o que eu sinto neste momento. Mas espero que um dia compreendam. Recebi um enorme apoio de atletas, celebridades, soldados que estão na linha da frente, as minhas redes sociais explodiram. Se eles estão orgulhosos de mim, significa que fiz algo importante, mesmo que custe muito. É essa a minha mensagem. Atletas ucranianos, estamos prontos para lutar convosco, com respeito, mas nunca lhes apertaremos a mão. Nunca seremos forçados a fazer a paz. É isso que eles estão a tentar fazer, obrigar-nos a desistir".
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