A tetracampeã olímpica do Rio"16 tem "o corpo e a mente desconectados". São esses os efeitos dos "twisties", que assumiu estarem a afetá-la depois de se ter desequilibrado.
Corpo do artigo
"Sinto que não estou a desfrutar. Queria fazer estes Jogos por mim, mas sinto que estou a fazer por outras pessoas. Entristece-me que me tenha sido roubado o prazer de fazer o que gosto para agradar os outros", estas foram as declarações de Simone Biles ao abdicar da final all-around, um dia depois de ter abandonado a final por equipas.
A federação norte-americana, que, no Twitter, explicou a ausência de Biles - "para poder concentrar-se na sua saúde mental ", lê-se em comunicado -, assegurou que "Simone continuará a ser avaliada diariamente, para determinar se participa ou não nas finais dos eventos individuais da próxima semana".
Biles, de 24 anos, chegou a Tóquio a defender o estatuto de tetracampeã no Rio"16 (equipas, all-around, salto e solo) e em busca de superar os nove ouros olímpicos de Larisa Latynina. Havia um mundo para deslumbrar e ainda mais um recorde a bater: conquistar o segundo ouro consecutivo no all-around, o que não acontece há mais de 50 anos, desde a checoslovaca Vera Caslavska, em 1968.
A pressão caiu-lhe em cima e a superestrela cedeu. Biles diz que perdeu a confiança e uma tristeza inexplicável abateu-se sobre a ginasta que afinal não é extraterrestre, mas simplesmente humana.
Praticante de uma modalidade que figura na lista das dez mais duras e perigosas, com características que a tornam superexigente, Simone Biles assumiu estar "a lutar contra a própria cabeça", despertando o mundo para um lado oculto. A ponta desse véu já fora levantada pela introvertida tenista Naomi Osaka, quando revelou problemas de "ansiedade social" há pouco mais de um mês, em Roland Garros.
Na BBC, a treinadora americana Christina Myers e a ginasta britânica Claudia Fragapane utilizaram o termo técnico "twisties" para explicar o conflito interior de Biles, que será comum na modalidade. "É um bloqueio mental que leva à perda do sentido de espaço e dimensão e consequente controlo do corpo, impedindo a segura receção no solo. Acontece quando o corpo e a mente desconectam", afirmou Myers.
"Ela tem um peso enorme sobre os ombros. Todos pensam que ela não é humana e que vai fazer sempre algo perfeito e do outro mundo. Mas ela é humana e a pressão foi demasiada. É muito perigoso quando a confiança falta. Podemo-nos magoar e eu passei por isso", contou Fragapane, que em abril, durante as incertezas da qualificação para Tóquio, viu o seu corpo bloquear; ao insistir, caiu mal e sofreu uma contusão cerebral, sendo hospitalizada.
O termo "twisties", que foi utilizado pelo própria Simone Biles para descrever o seu problema, é pouco conhecido fora da ginástica, mas rapidamente identificado pelos seus praticantes, que salientam o seu perigo.