
Catarina Dias
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Catarina Dias conquistou título mundial de kickboxing
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A engenheira civil Catarina Dias superou diversos "desafios da interioridade" e submeteu-se a "enormes sacrifícios pessoais" para se dedicar à "imensa paixão" pelo kickboxing, agora recompensada com inédito título mundial.
"Sinto-me verdadeiramente realizada, porque realizei um dos meus maiores sonhos. Todo o trabalho e toda a dedicação valeram a pena. Espero que as pessoas olhem para o interior, onde temos tão poucas acessibilidades e não tantas oportunidades como outras pessoas nas grandes cidades, e conseguimos chegar", vincou Catarina Dias.
Em declarações à lusa, a atleta transmontana comentava o título de campeã mundial de kickboxing da WAKO (Associação Mundial de Organizações de Kickboxing), na categoria de -70 kg, alcançado na sexta-feira, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Aos 27 anos, a atleta de Montalegre faz diariamente cerca de 200 quilómetros para treinar no Ginásio Clube Mirandelense, no qual evolui desde os 16 anos e sente como a sua "casa", revelando que esta paixão pelo kickboxing lhe consome seis horas diárias, tirando as três para viagens para se preparar "Basicamente, agora o kickboxing é o meu segundo trabalho. É um "hobby" que também dá muito trabalho e exige muitas horas diárias e muitos sacrifícios. É tudo uma questão de gerir o meu dia. Tenho o trabalho para me sustentar e o desporto para alimentar o meu sonho", sublinhou.
Nos Emirados Árabes Unidos teve uma dificuldade acrescida, já que deixou Montalegre com dois graus celsius negativos e competiu em Abu Dhabi com temperaturas superiores a 30, além dos "desafios" com a adaptação à alimentação. "Saímos de temperaturas negativas para altíssimas. O corpo sofre um abalo muito grande, porque tem de se habituar em dois ou três dias. Também ao fuso horário, pois nos Emirados Árabes Unidos são quatro horas mais tarde. Depois é o primeiro combate, pois não sabemos como vamos estar, reagir, como nos vamos sentir no ringue. A partir daí, as coisas começam a fluir e habituamo-nos a esse ritmo", confessa.
O ouro no Campeonato do Mundo segue-se ao título nos Jogos Mundiais de 2025, um feito que coloca a atleta transmontana num outro patamar, esperando que os seus êxitos façam as autoridades "olharem mais para o interior e as suas dificuldades", garantindo que, em diversas modalidades, há atletas que não conseguem impor o seu potencial devido às dificuldades na preparação.
Catarina Dias encontra impossíveis no horizonte, pelo que, apesar dos 27 anos, não coloca de parte o sonho olímpico caso o kickboxing faça parte do programa dos Jogos em 2032, em Brisbane, na Austrália. "A carreira no kickboxing vai mais ou menos até aos 35 anos. Tudo começa por alguém e se conseguir ser uma inspiração para as outras mulheres... Há algo que nos destaca, principalmente no interior, porque somos muito resilientes. O interior molda-nos a sermos mais fortes, mais independentes, a viver na dificuldade e com poucos recursos", ilustrou.
Catarina Dias sagrou-se campeã do mundo em -70 kg, na sexta-feira, já depois de Sofia Oliveira, do Desportivo de Guimarães ter arrebatado o título em -60 kg.
Além dos dois títulos mundiais, a representação portuguesa nos Emirados Árabes Unidos rendeu mais três medalhas de bronze por Cátia Batista, em seniores, e Emanuel Cortes e Nuno Lopes, ambos na categoria de veteranos.

