Se a aparência é promissora, a realidade ainda não o é. Em Portugal, por exemplo, vai abrir neste ano o primeiro posto de abastecimento - da Galp -, mas destinado a autocarros
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Sendo cada vez mais os autocarros movidos a hidrogénio, os mais argutos já se terão perguntado: e por que não há automóveis com o mesmo combustível? A questão faz todo o sentido, e na realidade até existem alguns, mas com dificuldade para se afirmar. A Toyota vai fazer agora novo esforço, com a segunda geração do Mirai.
As apostas no hidrogénio são recentes e quase todas a Oriente: no Japão, além do Mirai, apresentado pela primeira vez no final de 2014, existe o Honda FCX Clarity; na Coreia, a Hyundai lançou primeiro uma versão do Tucson e depois o Nexo. A Mercedes tem o F-CELL e a BMW o Hydrogen 7, mas são séries limitadas e pontos de partidas para apostas a caminho. Ou talvez não.
Um carro a hidrogénio, e talvez seja melhor começar por aqui, possui na realidade um motor elétrico - por isso lhes chamam FCEV, significando veículo elétrico com célula de combustível -, que é alimentado pelo resultado de uma reação química entre hidrogénio e oxigénio, que produz energia elétrica, calor e água (daí as emissões serem de vapor de água). Portanto, não se gasta a energia de uma bateria. Para o utilizador, o funcionamento é o mesmo de um carro elétrico, com autonomia superior - o novo Mirai aponta a 650 km - e tendo o abastecimento de hidrogénio uma duração e método semelhante ao da gasolina. Não existem as esperas de carregamento dos elétricos.
Uma segunda dificuldade é o preço: até agora, os modelos a hidrogénio são bastante mais caros do que os elétricos. O novo Mirai ainda não tem valores, mas pouco deverá ficar abaixo dos 78 900 euros que o seu antecessor custava em França e na Alemanha, dois dos países que o receberam
Se a aparência é promissora, a realidade ainda não o é. Em Portugal, por exemplo, vai abrir neste ano o primeiro posto de abastecimento - da Galp -, mas destinado a autocarros. Logo, não se vendem carros a hidrogénio. "Estamos a viver o problema do ovo e da galinha: não havendo locais de abastecimento, os consumidores não compram carros a hidrogénio; como os carros são poucos, ninguém investe nos postos de abastecimento", comentou Axel Rucker, responsável pelo programa de hidrogénio na BMW.
Uma segunda dificuldade é o preço: até agora, os modelos a hidrogénio são bastante mais caros do que os elétricos. O novo Mirai ainda não tem valores, mas pouco deverá ficar abaixo dos 78 900 euros que o seu antecessor custava em França e na Alemanha, dois dos países que o receberam. "O objetivo será conseguir preços semelhantes aos dos elétricos", diz Rucker, que sabe ser necessário resolver vários dos atuais problemas: a produção de poucas unidades aumenta os custos, tal como a utilização de platina nas células energéticas, enquanto a dimensão dos tanques de hidrogénio só os torna possíveis em modelos grandes. A tudo isto soma-se o preço do hidrogénio, que pode levar o consumo aos 100 km para valores superiores aos da gasolina.
"Queremos ter um carro emocional, que atraia as pessoas pelo seu design e dinâmica", refere Yoshikazu Tanaka, engenheiro chefe da equipa que produziu o Mirai, na realidade mais cativante do que a geração anterior, da qual a Toyota vendeu 10 mil unidades. O novo modelo será comercializado até ao final do ano, no Japão, América do Norte e Europa, tendo um interior inovador - e com cinco lugares, enquanto o antecessor tinha apenas quatro -, mas falta saber se ajudará à mudança de paradigma. É que carros a produzir vapor de água seriam ideais para todos...