Campeã mundial dos 100 metros foi encontrada morta em casa, em trabalho de parto e vítima de eclampsia. Que devia ter sido detetada; Autópsia da velocista revela história chocante. A eclampsia, detetável e vigiada em quase todo o mundo, gera uma mortalidade elevada nos EUA, cinco vezes mais alta entre as mulheres negras.
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Torie Bowie, a norte-americana de 32 anos que foi medalhada de prata nos 100 metros dos Jogos do Rio"16 e campeã mundial em Londres"2017, faleceu devido a falha respiratória e eclampsia, enquanto estava em trabalho de parto, no passado dia 2 de maio. A velocista ia no oitavo mês de gravidez e foi encontrada morta em casa pelas autoridades, que a procuraram por estar desaparecida há vários dias. A autópsia, feita pelo departamento médico de Orange County, na Florida, e revelada agora pelo USA Today, levanta questões preocupantes.
O caso de Tori Bowie, de quem se chegou a dizer ter um comportamento errático e sofrer de depressão - o seu agente alega que quem especulou com um possível suicídio deve agora pedir desculpa -, terá contornos por explicar, mas agrava uma estatística que deixa uma péssima imagem dos serviços de saúde dos Estados Unidos. A eclampsia, que aumenta a pressão arterial e causa complicações nos rins ou fígado, podendo gerar ataques que causam espasmos e a perda de consciência, devia ter sido detetada.
Sendo complicações raras na gravidez, a pré-eclampsia e a eclampsia surgem habitualmente após as 20 semanas. Embora tratando-se da principal causa de mortalidade pré-natal, é habitual o diagnóstico, vigilância e tratamento pelos serviços de saúde. Mas os óbitos são "excecionalmente altos nos Estados Unidos, quando comparados com outras nações desenvolvidas", escreveu a Forbes, a propósito do caso de Tori Bowie, alertando para as "taxas de mortalidade três a quatro vezes mais altas entre as mulheres negras".
Um estudo do Population Reference Bureau (PRB), publicado em março, denuncia dados ainda mais chocantes. Essa mortalidade entre as mulheres de cor é cinco vezes superior em relação às brancas quando se trata especificamente de eclampsia e nem as diferenças sociais o explicam: em Nova Iorque, as complicações graves no parto surgem duas vezes mais em negras com frequência universitária do que em brancas com o ensino secundário; na Califórnia, há mais problemas a dar à luz em negras ricas do que em brancas pobres. E a covid-19 aumentou os óbitos nos últimos anos, com 69,9 mortes de mães ou bebés por cada 100 mil partos de mulheres negras, contra 26,6 de brancas.