Ciclista alemão, quatro vezes dono da camisola arco-íris, venceu na estafeta mista em contrarrelógio e será eterno na modalidade
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Tony Martin terminou esta quarta-feira a carreira de ciclista profissional e fê-lo da melhor forma, com um título mundial de contrarrelógio em estafeta mista na Flandres. O alemão, surpreendentemente, anunciou o final do seu percurso, queixando-se da falta de segurança para os ciclistas profissionais, luta pela qual tem dado cara e corpo, sendo muitas vezes o representante das equipas junto de comissários e organizações.
Na Volta a França foi obrigado a desistir e as mazelas no corpo - de todas as fraturas que acumulou durante a carreira -, fizeram com que se quisesse despedir mais cedo e numa altura em que era vital à Jumbo-Visma.
Martin nunca venceu uma Grande Volta, mas pode, ao que sabemos hoje, ser considerado o melhor contrarrelogista puro de sempre. Foi dez vezes campeão germânico - de 2012 a 2019 venceu sempre - e é, a par de Fabian Cancellara, o único a somar quatro títulos mundiais no crono. Venceu de 2011 a 2013 e em 2016, quando já poucos esperavam, voltou a erguer os braços para o quarto título.
Manteve-se fiel à sua base de trabalho e rejeitou sempre ser transformado num voltista, mesmo que em 2011 lhe tenha sido recomendada essa mudança, depois de vencer a Volta ao Algarve (em duas ocasiões) e a Paris-Nice. Dotado de uma capacidade para rolar, Martin atacou muito e ficou perto de grandes vitórias a solo e, em 2015, conseguiu-a na Volta a França, numa etapa com paralelos à Roubaix, vencendo Sagan, Degenkolb e Van Avermaet para vestir de amarelo.
Não foi, porém, nas clássicas que brilhou e o Tanque, como era conhecido, termina a carreira com 68 vitórias, 51 das quais em contrarrelógios, nomeadamente três na Volta a França e muitas pelo melhor do World Tour, desde Romandia a Califórnia, País Basco, Paris-Nice, Dauphiné e Volta à Suíça.
Na Katusha, em 2017 e 2018, entrou na fase descendente, mas reencontrou-se na Jumbo-Visma e com um papel diferente. Capaz de puxar pelotões por 100 km, é o homem de ombros largos e de mão no ar, muitas vezes a pedir calma aos rivais nas descidas, e a condenar ataques antidesportivos. Esteve presente na Volta a Espanha de 2019, vencida por Primoz Roglic, e era peça-chave no tabuleiro na Volta a França nos últimos quatro anos, tendo sido um dos mais determinantes para o esloveno ser segundo na edição de 2020.
Aos 36 anos sai em boa forma, sendo dos mais influentes ciclistas do mundo e tendo marcado uma geração de jovens que agora principiam. O seu trabalho na Jumbo será substituído por Rohan Dennis, que sai da Ineos, e a Martin ficou mesmo a faltar uma clássica monumento no paralelo para que a carreira fosse ainda mais fulminante.
Na arte do contrarrelógio, por outro lado, era quase impossível pedir mais, recordando que, em ano de despedida, foi sexto no último fim de semana, ficando a pouco mais de 30 segundos de um pódio cheio de talento e juventude. Filippo Ganna, aos 25 anos, leva 14 vitórias em contrarrelógios, é bicampeão mundial, e poderá ser o legítimo sucesso do alemão de Cottbus.