Tó Neves entre a fábrica e os pavilhões: "Numa situação normal, nenhum patrão me aguentava"

Pedro Granadeiro/Global Imagens
É entre Fânzeres, onde trabalha na fábrica têxtil especializada em passamanarias, e Oliveira de Azeméis que Tó Neves se desdobra diariamente. Pelo meio, encontra tempo para jogar nos veteranos
Estreou-se como técnico na Oliveirense, quando ainda jogava. Nas quatro épocas no FC Porto (2011/12 a 2014/15) tornou-se apenas treinador, voltando nesse papel para Oliveira de Azeméis, dividindo-o com o de empresário.
É o único treinador, dos quatro candidatos ao título, que tem outra ocupação profissional...
-Com 26 anos, quis ser só profissional de hóquei e não gostei muito. Não tenho essa vontade. O tempo que tenho é mais do que suficiente para preparar a equipa. Sempre foi assim como jogador e como treinador; só é possível porque tenho liberdade total.
Entre a fábrica e o hóquei, o que fica a perder?
-Sempre foi uma regra minha: o hóquei foi sempre uma prioridade e o meu sogro respeita. Quando estou na empresa, estou a cem por cento. Mas na pré-época estive durante o mês de setembro sem ir à empresa, com treinos bidiários e estágios. Numa situação normal, não teria nenhum patrão que me aguentasse.
O hóquei, sendo uma paixão, viveu-o de forma diferente no FC Porto e na Oliveirense?
-Os clubes são diferentes, mas a paixão e o profissionalismo são iguais. Até nos veteranos, só falho um treino em situações excecionais e treinamos uma vez por semana ou de quinze em quinze dias [ndr: Tó Neves é campeão nacional de veteranos pelo FC Porto].
Foi difícil a passagem pelo FC Porto?
-Muito. Na altura, fui aconselhado por jogadores a não ir, mas fui. Gosto de grandes desafios. Cresci imenso como treinador.
Como foi mudar o chip no regresso à Oliveirense?
-São 30 anos de um clube e mais dez de outro. É sair de uma casa e entrar noutra.
Vai ao futebol?
-Não tenho tempo. Fui ao estádio na apresentação com o Deportivo. Jogos a doer vejo na televisão, como gosto de ver o Real Madrid-Barcelona.
Olha para o futuro e vê-se treinador por muitos anos?
-Fui dos poucos a jogar até aos 45. Agora, enquanto tiver gosto em preparar um treino fico.
É um treinador impulsivo. Sente que já prejudicou a equipa?
-Trabalho para que isso não aconteça, mas já me aconteceu várias vezes. Na Luz foi mais o sentimento de injustiça que se apoderou de mim.
