Jasper Philipsen venceu a primeira etapa do Tour
Corpo do artigo
Jasper Philipsen viveu uma estreia de sonho na 112.ª Volta a França, vestindo a primeira amarela após uma caótica etapa inaugural, em que o ciclista português João Almeida e outros favoritos cederem tempo por culpa do vento.
Já muitos tinham avisado que a primeira parte deste Tour poderia ser decisiva, mas poucos antecipariam a sucessão de acontecimentos que marcaram os 184,9 quilómetros com início e final em Lille, onde o belga da Alpecin-Deceuninck se impôs ao eritreu Biniam Girmay (Intermarché-Wanty) e ao norueguês Soren Waerenskjold (Uno-X).
“Tinha sonhado com isto. Já tinha a camisola verde [foi o vencedor da classificação por pontos em 2023] e poder ter a camisola amarela na minha casa nos próximos anos será fantástico”, confessou Philipsen.
Se no ano passado sofreu para começar a ganhar na "Grande Boucle" – estreou-se à 10.ª etapa, antes de conquistar outras duas -, hoje o feroz belga esteve irrepreensível, vendo o seu poderoso sprint recompensado não só com a 10.ª vitória na prova, mas também com a primeira amarela.
A feliz jornada do corredor de 27 anos, que comanda a geral com quatro segundos de vantagem sobre Girmay e seis sobre Waerenskjold, contrasta com o dia ‘negro’ de João Almeida (UAE Emirates), Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) ou Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe), que foram apanhados numa armadilha montada pela Visma-Lease a Bike e por Jonas Vingegaard nos derradeiros 20 quilómetros e perderam 39 segundos.
Numa etapa de ventos cruzados, a formação neerlandesa provocou um corte, com o campeão em título Tadej Pogacar (UAE Emirates), o espanhol Enric Mas (Movistar) e o australiano Ben O’Connor (Jayco AlUla) a serem os únicos favoritos a conseguirem acompanhar o dinamarquês.
As primeiras pedaladas da 112.ª edição foram dadas em Lille e, assim que foi dada a partida real, saltaram para a frente da corrida o campeão olímpico de omnium Benjamin Thomas (Cofidis), os também franceses Bruno Armirail (Decathlon AG2R La Mondiale), Mattéo Vercher (TotalEnergies) e Mathis Le Berre (Arkéa-B&B Hotels) e o alemão Jonas Rutsch (Intermarché-Wanty).
Ainda nem estavam decorridos cinco quilómetros e já o quinteto tinha uma vantagem de um minuto e meio, uma margem que foi crescendo (mas pouco) com autorização da Alpecin-Deceuninck e da Lidl-Trek, equipa de Jonathan Milan, outro dos grandes derrotados da etapa de hoje.
A pouco mais de 130 quilómetros da meta, deu-se a primeira queda desta ‘Grande Boucle’, com Filippo Ganna (INEOS) a ficar afetado mas a retomar a marcha, numa altura em que as formações dos favoritos estavam colocadas na frente do pelotão devido ao forte vento.
O nervosismo contagiou os ciclistas, com as quedas a sucederem-se e a apanharem o promissor Thibau Nys (Lidl-Trek) e Stefan Bisseger (Decathlon AG2R La Mondiale) – acabaria por abandonar -, com Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe) a sofrer um furo e a ficar atrasado.
O ritmo elevado do pelotão prejudicou o azarado alemão, assim como Lenny Martinez (Bahrain Victorious), que não conseguiu acompanhar o grupo, com os dois candidatos ao top 10 a terem de recuperar de uma desvantagem de mais de 40 segundos, mas a acabarem por recolar, já depois da fuga do dia ter terminado, a mais de uma centena de quilómetros da meta.
Inconformados, Thomas e Vercher voltaram a tentar a sua sorte. Tamanha era a vontade de ambos em passar primeiro na contagem de quarta categoria de Cassel que acabaram no chão, depois da bicicleta do homem da Cofidis deslizar após o sprint.
Nessa altura, Martinez já estava outra vez descolado – o sonho do francês acabou na etapa inaugural, ao perder mais de nove minutos – e, pouco depois, foi a vez de Simon Yates ter um problema mecânico na pior altura, com o surpreendente vencedor do Giro2025 a ter de perseguir em solitário um grupo no qual já não estava Ganna, primeiro desistente desta edição.
O britânico da Visma reentrou, mas acabou por perder o contacto a duas dezenas de quilómetros da meta, quando novos cortes se formavam no pelotão, por iniciativa de um Jonas Vingegaard mais agressivo do que o habitual.
Evenepoel, terceiro da passada edição, e os homens da Red Bull-BORA-hansgrohe foram apanhados de surpresa, assim como João Almeida e Nelson Oliveira (Movistar), os dois portugueses em prova que cederam 39 segundos para o grupo liderado por Philipsen e estão a 49 segundos do belga na geral.
Num final pleno de suspense, O’Connor ainda sofreu uma queda aparatosa – por ter acontecido dentro dos quatro quilómetros finais, foi creditado com o mesmo tempo do vencedor.
No domingo, os ciclistas disputam a etapa mais longa da 112.ª edição, 209,1 quilómetros entre Lauwin-Planque e Boulogne-sur-Mer em que o vento poderá ter novamente um papel crucial.