Óscar Pereiro aborda o ponto final precoce na carreira. Vencedor de uma edição do Tour, deixa elogios a Jonas Vingegaard.
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Óscar Pereiro acredita que Jonas Vingegaard pode conquistar mais Voltas a França, embora tenha tido o azar de coincidir com uma geração invulgarmente equilibrada, numa era em que o ciclismo é mais duro.
"É um corredor-Tour, tem as condições ideais. É um corredor para a Volta a França. Além disso, tem uma grande equipa em seu redor. É um galo, como nós dizemos. Tem condições para ganhar mais Voltas a França, o problema é que nasceu numa geração... é muito complicado encontrar uma geração em que haja tanta igualdade [como nesta], com dois, três corredores que podem disputar o Tour", analisou o vencedor do Tour'2006.
Atual diretor de relações públicas do Gran Camiño, e responsável pelos contactos com as equipas, o antigo ciclista galego confia no potencial do dinamarquês de 26 anos, que, no entanto, é diametralmente diferente do seu "vice" na passada edição da "Grande Boucle", o bicampeão destronado Tadej Pogacar.
"O ciclismo atual mudou muito em relação ao de há 20 anos. Agora, praticamente todos os grandes ciclistas competem para ganhar. Estamos a ver que o seu grande rival, Pogacar, ganhou praticamente tudo o que correu. Penso que o Vingegaard programa muito mais e é mais calculista nos seus esforços", avaliou, em declarações à agência Lusa.
Ainda assim, e apesar do perfil (bem) mais discreto do corredor da Jumbo-Visma, Pereiro não podia estar mais feliz pelo dinamarquês ter escolhido o Gran Camiño para se estrear.
"Vai demonstrar realmente qual é o seu nível, o seu estado de forma. Em teoria, hoje vai demonstrar se está ou não para ganhar [o Gran Camiño]", prognosticou, referindo-se ainda ao facto de o corredor de Hillerslev, uma pequena aldeia piscatória dinamarquesa de apenas 370 habitantes, estar habituado às más condições meteorológicas que se fizeram sentir na primeira etapa, anulada devido à intensa queda de neve.
Neste momento, Pereiro e Vingegaard estão empatados no historial de vencedores do Tour, ambos com uma vitória, sendo que no caso do primeiro esta chegou a posteriori, com a desclassificação, por doping, do norte-americano Floyd Landis.
O galego, agora com 45 anos, desistiu da carreira precocemente em 2010, depois de ter somado resultados modestos após a sua grande glória - a etapa que ganhou nesse Tour figura como última de seis vitórias do seu palmarés.
"Naquele momento, tinha perdido a vontade para treinar, para sofrer, para cuidar-me. O ciclismo é um desporto no qual tens de estar sempre a 100%, sobretudo a nível mental. Com o passar dos anos, olho para trás e penso "podia ter corrido mais dois anos". Mas, nesta vida, as decisões têm de ser tomadas e não nos devemos arrepender, porque o arrependimento não vai resolver nada", refletiu.
Hoje, Pereiro pensa que podia ter prolongado a sua carreira, mas mantém-se convicto de que "nessa altura não tinha as condições suficientes para mentalmente continuar a sofrer", mesmo que, à época, o ciclismo fosse um mundo mais "fácil". "Um ciclista profissional tem, hoje em dia, uma vida muito mais dura do que nós tínhamos. Quase nunca estão em casa. Quando não estão a competir, estão em altitude. Pesam a comida de janeiro a dezembro. Esses seis quilos que nós ganhávamos naquela época, hoje são inviáveis. Competem de janeiro a outubro. Ser ciclista profissional, neste momento, é muito mais duro do que na nossa época. Vêm preparados das categorias inferiores, mas, para mim, o desporto, em geral, ainda é mais difícil", considerou.
Envolvido na organização do Gran Camiño, que termina no domingo, mas também na da Vuelta, onde é o responsável do protocolo, Pereiro explica a sua permanência na modalidade como se de uma adição se tratasse. "O ciclismo é a minha paixão, é a modalidade que me deu tudo. É como uma droga: ainda que o deixes a nível profissional, continuas a gostar de pedalar, de ir às corridas. Gosto de visitar [o pelotão], de acompanhar. No final, já não é só por agradecer o que a modalidade me deu, mas porque continuo a gostar", concluiu, em declarações à Lusa.
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